COMEÇA A ser impossível disfarçar o mau estar que tomou conta das relações entre António Costa e a direcção do Partido Socialista, por um lado, e José Sócrates e os seus indefectíveis, por outro. Nos últimos dias, os recados, remoques e queixas têm-se sucedido de parte a parte, curiosamente com Sérgio Figueiredo, um confesso amigo de Sócrates a abrir as hostilidades, quando regressado de uma visita a Évora, resolveu assinar um artigo na edição de segunda-feira do “Diário de Notícias” (aqui reproduzido em post anterior) que fez soar óbvias campainhas de alarmes dentro do palacete do Largo do Rato, tal o papel de mensageiro amigo que o director de informação da TVI decidiu sem rebuço assumir. No fundo, Figueiredo, não sendo militante socialista, mais não fez que dar corpo e voz às muitas críticas e ataques que Costa tem sido alvo nos últimos meses pela forma “ambígua” e “oportunista” como se tem comportado relativamente a Sócrates e à sua detenção. E o facto de ser amigo do antigo primeiro-ministro, de ter declaradamente escrito o artigo mal cruzou a porta de saída do Estabelecimento Prisional de Évora, conferiu-lhe uma importância que em outra situação e oportunidade não teria.
A primeira reacção de Costa foi enviar discretamente, logo na terça-feira, o seu líder parlamentar Ferro Rodrigues a Évora, muito possivelmente com o objectivo de acalmar Sócrates e garantir, aos socialistas, uma paz interna que parece estar ameaçada a pouco mais de três meses das eleições. Mas praticamente ao mesmo tempo que Costa tentava fazer essa “aproximação”, o “Público” escolhia como destaque para a entrevista do líder socialista publicada na quarta-feira uma frase que não deve ter caído propriamente bem junto das hostes “sócraticas”: “Sempre que houver dúvida fundada sobre ilícitos de um membro de um governo, isso implicará necesariamente a cessação e funções“. Pior a emenda que o soneto, como soe dizer-se… Do lado contrário, ainda ontem, o blogue “Aspirina B”, que é assim uma espécie de “órgão oficial do socialismo” da blogosfera não podia ser mais contundente nas críticas dirigidas ao líder socialista, não o poupando: “Costa tem vários problemas que não está a conseguir resolver: se, receoso do peso da dita opinião pública, opta pelo mais fácil e por ignorar o preso 44, que é o que parece fazer, dá um crédito à Justiça que nenhum jurista minimamente isento lhe pode dar, nem dá, neste momento. E isso começa por estar errado. Mostra-se fraco, refém das parangonas do pasquim e das mentiras da direita, e conivente com os responsáveis pelas fugas de informação e com a respetiva estratégia.”. E Alfredo Barroso, fundador do PS, ainda que recentemente se tenha afastado do partido e que nunca foi propriamente um entusiasta de Sócrates, foi mesmo mais longe no artigo publicado ontem no jornal “i”, quando critica violentamente a direcção socialista: “Repugna-me a hipocrisia, a pusilanimidade, chamemos-lhe cobardia, dos actuais dirigentes do PS, alguns deles amigos, ex-ministros e secretários de Estado nos seus governos“.
Como isto vai acabar, ninguém sabe. Agora o que sim se sabe é que a Costa ninguém lhe tira da cabeça que a divulgação, por parte dos advogados de defesa de José Sócrates, que o Minsitério Público iria propôr a a alteração das medidas de coacção exatamente “em cima” do encerramento da convenção socialista do Coliseu dos Recreios não foi um mero acaso e que se destinou a passá-la para segundo plano. Convenção essa que, por outro lado, diga-se em abono da verdade, onde, durante três dias, nem uma única vez foi citado o nome de Sócrates. E teimosos e casmurros como os dois são, ninguém pode garantir onde e como isto vai parar…
Amigo ZPF
Costa sabe certamente mais que o que se publica nos jornalecos e portanto deve ter a certeza de que a bomba ainda nem rebentou…..
O julgamento,como diria uma boa amiga comum,”vai ser de gritos”!!!