SE É verdade que, em Setembro de 1984, antecipando o estertor de um bloco central já gasto e sofrido, Cavaco Silva surgiu na cena política pela porta grande, não é menos verdade que hoje, mais de três décadas depois, esse mesmo Cavaco irá abandonar o palco pela porta dos fundos após ter desbaratado um enorme capital político. No fundo, Cavaco está a ser tratado pelo País como ele próprio tratou ao longo destes anos colaboradores e até amigos, não os hesitando em sacrificar quando deles já não necessitava e sempre em nome de uma estratégia e ambição egoístas, onde nunca hesitou entre privilegiar os seus interesses pessoais aos valores que deveriam nortear o seu comportamento com tantos que foram essenciais à sua trajectória política-pessoal. Durante estes trinta anos, Cavaco foi useiro e vezeiro em “usar e deitar fora” – fê-lo com o próprio partido que lhe deu o necessário “palco” e a quem não hesitou em virar as costas em momentos mais críticos; fê-lo pessoas que foram determinantes na sua “construção” enquanto actor político como, por exemplo, Pedro Santana Lopes, Eurico de Melo, Fernando Nogueira ou Fernando Lima; fê-lo mesmo com “estrelas” dos seus executivos como, entre outros, Miguel Cadilhe, Jorge Braga de Macedo e até Leonor Beleza e a quem na primeira oportunidade apontou a porta de saída dos seus governos.
Hoje, na hora do adeus, chegou o momento do País pagar-lhe na mesma moeda, ou seja, “deitando-o fora”. Sem honra nem glória, esquecido e já pouco grato pelo seu desempenho enquanto primeiro-ministro e tratando-o exactamente do mesmo modo como o próprio Cavaco tratou tantos a quem devia gratidão e reconhecimento – pura e simplesmente como um vulgar “kleenex”…