DURANTE ANOS a fio os governantes europeus “pelaram-se” por cruzar o Mediterrâneo e caírem nos braços dos seus congéneres do Norte de África que os recebiam em tendas sumptuosas no meio do deserto (diziam eles…), rodeados de odaliscas dignas das mil e uma noites, empanturrando-se de tâmaras, bebendo litros e litros de chás de toda a espécie e feitio e recebendo prebendas e ofertas que muitas vezes excediam em valor e oportunidade o que é comum designar-se como razoável. Do lado de cá, os assessores dos governantes desdobravam-se em contactos com os diligentes jornalistas e faziam-nos crer da oportunidade e êxito da visita, da catrefada de super-contratos que tinham sido assinados e dos milhões que essas visitas iriam fazer entrar nos cofres das já então depauperadas empresas do Velho Continente. Era o tempo dos Khadafis e outros que tais, perante quem se curvavam servil e bacocamente, pouco lhes importando se a mesma mão que os cumprimentava hoje não tinha sido a mão que, ontem, teria empunhado a cimitarra para cortar a cabeça do opositor mal comportado. O que interessava era tirar a fotografia com o ditador de serviço, de preferencia tê-la dedicada e sempre, mas sempre, expô-la na sala lá de casa para que amigos e familiares lhe perguntassem extasiados: “Mas tu estiveste com o homem? Conheceste-o?! Conta, conta….“.
Lembrei-me destes tempos, desses episódios e desses (inúmeros) protagonistas, quando ontem vi as imagens de várias estátuas de nus expostas no Museu Capitolino em Roma e que foram mandadas tapar por ordem do governo italiano de Matteo Renzi, para que à sua passagem, o presidente iraniano Hassan Rouhani não sentisse desrespeito “à cultura e sensibilidade iranianas“(sic.). Acho que não há muito a dizer sobre isto. Só que a Europa continua de cócoras. E depois queixem-se…