José Paulo Fafe

A falsa questão da medalha do cantor


PLACA

ESTA NOVA praça pública chamada “Facebook” agita-se de vez em quando com polémicas estéreis e sem qualquer nexo, mobilizando de um lado e outro fervorosos adeptos que, de tecla em tecla, se aprestam a atacar quem não partilhe as suas ideias e quem tenha a veleidade de pensar o contrário do que cada um defende.

A última “polémica”, ou “onda de indignação” como preferirem, a que assisti foi a que se prendeu com Tony Carreira e com a indisponibilidade mostrada pela embaixada portuguesa em Paris para receber a cerimónia de entrega da condecoração com que o Estado francês decidiu agraciar o cantor português – a medalha de Cavaleiro da Ordem das Artes e das Letras. Bastou o popular Carreira, por notório desconhecimento das regras e normas,  manifestar a sua “tristeza” pelo facto da representação portuguesa na capital francesa não ter-se mostrado disponível para albergar o evento, para que uma autêntica horda de internautas se precipitasse para os computadores, tablets e telemóveis condenando a atitude da embaixada, insultando o embaixador, exigindo a sua demissão ou quando muito a sua transferência imediata para Cartun, Bangui ou mesmo Seul. “Inconcebível!“, “ultrajante“, “uma vergonha nacional“, ululou logo o povo facebookiano, sedento de sangue e reclamando uma reparação imediata para o cantor Carreira. E “ai!” de quem ousasse tentar contra-argumentar e explicar que nunca em tempo algum se viu uma embaixada acreditada num país estrangeiro servir de palco para a entrega de uma condecoração concedida por esse mesmi Estado a um cidadão nacional do País que essa embaixada representa. Por outras palavras: a condecoração outorgada pelo Estado francês a Tony Carreira para ser entregue numa embaixada, só o podia ser na representação diplomática francesa em Lisboa, nunca na missão portuguesa em Paris. É óbvio, é lógico, é institucionalmente correcto, faz parte das mais elementares regras e normas, enfim só não percebe quem não quer ou, então, quem faz da “indignação farebookiana” um modo de vida. Mas também, verdade seja dita, a estes “profissionais da indignação”, juntam-se outros que logo aproveitam rapidamente um “não-incidente” para tentar tirar partido político-partidário e crucificar rapidamente embaixador, secretário de Estado, ministro, primeiro-ministro, o governo inteiro e tudo o que vier a eito.

Embora seja um adepto das redes sociais e as utilize diariamente, tanto para dar opinião como para colher a opinião de outros, são estas coisas que me metem impressão no “Facebook”: a irritante teimosia de quem, sendo inteligente, insiste em manter uma postura que pouco ou nada deixa transparecer essa mesma inteligência.

PS – Entretanto já percebi qual é a “onda de indignação” que vai a suceder a esta falsa-questão da condecoração do cantor Carreira: vem aí a polémica do faqueiro adquirido pelo Protocolo de Estado. Vai uma aposta?

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