COM ATRASO, comecei a ler “(In)confidências Diplomáticas”, um interessante livro em que o embaixador João Rosa Lã “viaja” através dos muitos postos que ocupou ao longo da sua carreira e em que, num estilo que prende o leitor, nos conta alguns episódios que protagonizou ou assistiu. Rosa Lã chefiou duas das mais importantes embaixadas portuguesas, em Madrid e em Paris, foi assessor diplomático de Cavaco Silva enquanto primeiro-ministro, tendo terminado a sua carreira em Rabat, para onde inexplicavelmente um então “socrático” Freitas do Amaral claramente o, passe o termo, “chutou”, pouco lhe importando a trajectória de um dos mais competentes diplomatas da sua geração e o facto de estar na capital francesa nem quase há um ano.
Exactamente a esse propósito, do seu afastamento de Paris, vale a pena transcrever parte da página 571 do livro, onde Rosa Lã relata a conversa telefónica mantida com o então ministro dos Negócios Estrangeiros, quando este inopinadamente e com um tom enfatuado lhe comunicou a sua substituição pelo seu colega António Monteiro, que tinha acabado de deixar a chefia da nossa diplomacia e que, contra o que é norma, pretendia voltar a Paris, de onde tinha saído em Julho de 2004: “Era o ministro Freitas do Amaral informando-me, no tom majestático e enfatuado com que gostava de impressionar os funcionários dele dependentes, que a situação em França era ‘muito grave’, após a recusa popular da Constituição Europeia e que ele, ministro, precisava de ter em Paris um embaixador com muito maior ‘peso’ do que eu, para fazer face ao que se iria passar em França nos próximos tempos. Tinha, por isso, decidido nomear para me substituir, um ‘peso pesado’ do Ministério, que tinha acabado de ser ministro dos Negócios Estrangeiros, que, como eu sabia, ‘constituía a função mais importante que se podia ocupar no aparelho do Estado’. ‘O senhor, em contrapartida, não passa de um mero funcionário diplomático’“. Assim, sem mais… É preciso escrever mais alguma coisa?