NO SEU habitual artigo semanal no “Sol”, Pedro Santana Lopes aproveitou a ocasião (e o último congresso do PSD) para relembrar passados ainda bem recentes e discorrer sobre as responsabilidade que cabem a uma certa direita na ascenção e manutenção no poder durante seis anos de José Sócrates. E convenhamos que Santana Lopes coloca o “dedo na ferida” de uma forma exemplar quando afirma que “Sócrates não se impôs sozinho, contou com a conivência, a cumplicidade, o apoio e até a admiração de muitas pessoas que hoje o excomungam“. De facto, o ex-primeiro-ministro socialista só ascendeu e se manteve no poder porque, objectivamente ao seu lado estiveram figuras gradas de uma certa direita, muitos deles da chamada “direita dos negócios” – aquela direita constituída por aqueles que, quase sempre, de mão estendida e cervical dobrada, colocam à frente de qualquer valor ou ideia, os seus interesses pessoais e económicos. Curiosamente foi essa gente que foram os seus advogados, os apresentadores das sua encomiásticas biografias, os banqueiros que até ao último dia se atropelavam para apoiar publicamente as medidas que ajudaram a conduzir o País ao estado em que se encontra, os organizadores de concorridos almoços e jantares em sua honra; os que procuravam em busca do precioso e principescamente pago parecer jurídico. Foram eles – muitos deles hoje “rendidos” ao novo establishment e cujos bastidores tentam frequentar– que não hesitaram em renegar os seus pretensos ideiais e valores, colocando-se na trincheira oposta e não hesitando em “disparar” contra os que envergavam a mesma farda. Razão tinha Churchill quando, ironica e inteligentemente, explicou um dia a um jovem colaborador o funcionamento da Câmara dos Comuns: “Meu filho, do outro lado estão os adversários, mas atenção porque do nosso lado estão os nossos inimigos“…