José Paulo Fafe

Ferreira Fernandes: mais uma crónica genial!

É IMPOSSÍVEL resistir a deixar de transcrever a genial crónica de José Ferreira Fernandes, publicada hoje no “Diário de Notícias”, sob o título “Diretamente da escadaria, o poeta“. Como é impossível deixar de ler o mesmo Ferreira Fernandes  um dia que seja. Sabem porquê? Porque faz bem, porque ajuda-nos a perceber que ainda há gente que pensa (e escreve) bem no nosso País, porque percebemos que afinal  há quem não se deixa tolher pela imbecilidade que por aí grassa. Se sou amigo de Ferreira Fernandes? É verdade, sou sim senhor. E admirador. E sabem porquê? Por esta(s) e por outras:
A melhor reportagem sobre os momentosos acontecimentos da escadaria do Parlamento, encontrei-a ontem num blogue, o Delito de Opinião. Dizia: “Não te candidates nem te demitas. Assiste./ Mas não penses que vais rir impunemente a sessão inteira./ Em todo o caso fica perto da coxia.” Assinava a reportagem Alexandre O’Neill. Vocês vão dizer: como crer em factos narrados sobre anteontem, quando o homem já morreu há 26 anos? Respondo: era poeta, vê longe. Eu, por exemplo, não sou, e fiquei-me pelo que mais mexia: os rapazolas das pedras e os polícias que os aguentaram, aos rapazolas e às pedras, hora e meia mas não eternamente. Enfim, escrevi sobre o óbvio (que os revolucionários façam a revolução e que os polícias policiem) e dei pouca atenção aos mirones. Mas esse fluir fundo não escapou ao poeta. Eu com olhos nas pedras e nos bastões, e O’Neill nessa improbabilidade de gente que nunca passa fora da passadeira ficar ali a olhar a boçalidade dos rufias. Ontem, a maioria dos testemunhos era dessa gente, queixando-se de ter levado por tabela. Ao que o poeta responde que não há espetáculos grátis. Queres ver pedras atiradas? Então, prepara-te, “fica perto da coxia…” Aliás, o poema de onde os versos são tirados abre com um conselho: “Não te ataques com os atacadores dos outros.” Aqueles canalhitas das pedras, logo no começo das manifes, são má companhia, não só no fim. (A José Navarro de Andrade, que lembrou o poema, obrigado).“.

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