José Paulo Fafe

Stevenson: eu vi-o perder…


CREIO QUE foi em 1976 (quando muito em 1977) que, em Cuba e desafiado por meu Pai, vi pela primeira vez  um combate de boxe. E que combate… Foi em Matanzas, a cento e poucos quilómetros de Havana. O cartel (se é que se lhe pode chamar assim) opunha o já mítico e campeão olímpico Teófilo Stevenson a Angel Milián, um pugilista que tinha acabado de sagrar-se campeão nacional e que – se a memória não me atraiçoa – tinha para além da alcunha de “Miura”(!), a particularidade de ser ligeiramente coxo. Não vou dizer que me lembro como se fosse hoje, mas há imagens desse combate que ainda hoje guardo, como por exemplo a elegância de Stevenson a tentar escapar-se ao corpo-a-corpo com um Milián que era um verdadeiro “armário” e tinha um soco poderosísimo ou o árbitro a cair desamparado no chão quando tentava separar os boxeurs. Como também recordo o meu “fraquinho” por Milián e a natural alegria que senti quando este, no final dos três rounds, foi declarado (justo) vencedor, contra a expectativa de tudo e todos.
Hoje, quando a propósito da morte de Teofilo Stevenson leio que o tri-campeão olímpico ganhou 301 dos 321 combates que disputou e que dezasseis dessas derrotas ocorreram no início da sua carreira, dou por mim a pensar que afinal, há quase quarenta anos, fui testemunha de um acontecimento invulgar – a de ter presenciado o juíz de um combate que tinha Stevenson como litigante a erguer outro braço que não o do homem que foi o símbolo do êxito desportivo do regime cubano e que, em plena década de 70, ao recusar uma então multimilionária oferta de 5 milhões de dólares para radicar-se nos Estados Unidos, taxativamente afirmou para gáudio de Fidel Castro: “Antes rojo, que rico…“.

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