José Paulo Fafe

Por uma questão de educação, sem título…

DURANTE PRATICAMENTE 20 anos fui jornalista. Passei pelo “Tal&Qual”, pelo “Expresso”, pelas (primeiras fases) das revistas “Grande Reportagem” e “Sábado”, dirigi a informação da então estatal Rádio Comercial, entre outras coisas. Trabalhei, aprendi e convivi com gente profissionalmente fora de vulgar, como Joaquim Letria, José Júdice, Hernâni Santos (apesar do feitio…), João Carreira Bom, Alexandre Pais, Zé Ferreira Fernandes, Jorge Morais, entre alguns outros. Fui repórter, editor, chefe de redacção, grande repórter, director, até administrador por onde passei até 1999, altura em que decidi sair da profissão. Durante essas duas décadas, não foi o facto de, na maior parte das vezes, escrever sobre política que deixei de ser amigo pessoal de Pedro Santana Lopes, de Fausto Correia ou de Luís Filipe Menezes e de manter relações pessoais privilegiadas com o general Ramalho Eanes ou com Fernando Nogueira, por exemplo. Como não foi o facto de ser amigo pessoal de António Martins da Cruz ou de Fernando Lima (então assessores de primeira linha de Cavaco Silva enquanto primeiro-ministro) que me impediu de escrever sobre os governos maioritários “laranjas” da década de 90. Vou mesmo mais longe: não foi também pelo facto de, a partir do momento em que Nogueira foi eleito líder, ter aderido ao PSD que me senti condicionado ou constrangido a escrever e ter opinião sobre o quer que fosse, envolvesse ou não aquele que tinha passado a ser o meu partido. Nunca escondi a minha opção e convicção políticas, como tão-pouco (verdade seja dita…) as apregoei. Perguntarão: e ao longo dos anos em que foi jornalista fez muitos “fretes”? Alguns – obviamente que sim, respondo sem qualquer problema. Para quê negá-lo? Fiz – uns por amizade, outros por uma questão estratégica e de conveniência pontual, outros mesmo por que achava que devia fazê-los. Mas uma coisa eu garanto: nunca deturpando factos, adulterando realidades ou por razões de ordem moralmente mais duvidosa e tendo um especial cuidado em não cair no ridículo.
E deixem-me dizer uma coisa: não acredito que nenhum, repito, nenhum jornalista nunca tenha feito o que na gíria se habituou a chamar de “frete” – seja ele pequeno, médio ou grande.
Vem tudo isto a propósito do tema principal da última edição da revista “NS’s”, onde Miguel Relvas é aparentemente “retratado” por Adelino Cunha. Para que não existam dúvidas, não tenho propriamente (e razões sobram-me…) grande consideração pelo “retratado” e quanto ao “retratista”, apesar de o achar um rapaz educado e simpático, a recordação que guardo dele quanto ao respeito por um compromisso de ordem profissional assumido e não respeitado, não é propriamente a melhor… Mas reconheço que é esforçado, que escreve “limpo” – o que no nosso jornalismo e nos tempos que correm, já não é nada mau! Mas indo ao que interessa: as 9 páginas e 10 fotografias que constituem o “perfil” assinado por Cunha do braço direito, esquerdo ou lá o que é de Passos Coelho é dos textos mais parolos, “servis” (na pior acepção do termo…) e imbecis (desculpa lá, ó Adelino!) que alguma vez me foi dado ler.
Acredito que o escriba em causa esteja fascinado com a imagem que o “retratado” quer dar e transmite de si mesmo. Do poder que se ufana de possuir, da capacidade que pretensamente tem em manobrar nos bastidores do poder as peças do xadrez político, do suposto longo e abrangente braço com que a relvática personagem condiciona a política cá do burgo. Admito mesmo que o Cunha seja um fã dos “Abba”, que fique rendido aos dotes culinários de “mestre Miguel” e que lhe inveje os botões de punho, a gravatinha abrilhantada ou o avental, seja ele branco ou preto… Percebo que o afoito Adelino também lamba as beiçolas com as pataniscas do Solar dos Presuntos, a sopa de feijão do Veneza em Paderne ou a perdiz na púcara d’A Lareira de Mogadouro e veja o tal “guia privado de restaurantes” desta versão minorca de Quitério como o seu “Michelinzinho”. Entendo que o Cunha lhe gabe o porte, o corte e o volume do cabelo e as tão apregoadas aventuras de juventude na noite de Lisboa, ombro a ombro com um Passos Coelho com dotes “fadísticos” e quando essa dupla então estraçalhava os corações das legiões de admiradoras que por eles suspiravam e até arfavam. Até me atrevo a pensar que o escriba, quando for grande, gostasse de ser um Relvas…
Para acabar, que este post já vai longo: na gíria jornalística, o que Cunha e Relvas “amanharam” (sim porque, nem que seja inconscientemente, aquilo é feito a “quatro mãos”) passa dos limites do “frete”. É o que, quem andou pelas redacções, apelida de outro modo, mas que aqui, por educação e decoro, me abstenho de escrever. Nem mesmo em latim…

8 ComentáriosDeixe um comentário

  • Um nojo do princípio ao fim. E contraproducente para um ambicioso desmedido como o aparelhista Relvas, sedento de poder. Quem tivesse dúvidas relativamente a esta personagem bem exemplificativa da nossa política de hoje, ficava mais do que esclarecido com a prosa desse tal Adelino. Um vómito… E o Passos Coelho que se ponha a pau com o amiguinho!

  • Belo texto, bela analise, deu para aprender um pouco melhor o que pode estar por tras das noticias que consumimos…

    do meu ponto, serei potencialmente socratico como agora se diz,

    aquela entrevista e fotos – o que li e vi não foi muito, não é meu genero -, tem um grande merito:

    mostrar o que certas pessoas são, pensam, se preocupam, o que intendem como objectivos de sociedade que visam liderar…

    Alias,

    confirmam outras ideias colhidas dos personagens e explicam como facilmente se embrulharam em trapalhadas,

    creio, armadas “mais alto”, como meros moços de recados…

    Abraço

  • Pensei que fosses falar do Freeport. Lembras-te? Pois é: eu estava no Independente.

    Um abraço deste teu amigo, Adelino Cunha

  • Caro Adelino Cunha,

    Queres falar do famigerado “caso Freeport”? É isso? Sou todo ouvidos, até porque sobre esse assunto deves certamente estar muito mais bem informado do que eu. Nem que seja pelo facto de, como muito bem recordaste, seres na altura – estamos a falar em 2005, não é? – editor de política do “Independente” e eu já há seis anos que tinha abandonado as lides.
    Aliás, se a memória não me falha, a minha natural curiosidade sobre esse assunto levou-me até a ligar-te, não foi? Lembras-te? Eu lembro-me! E recordo até com saudade o teu natural e contagiante entusiasmo, próprio de um jornalista que se orgulhava das “cachas” que o seu jornal possuía. O que não me lembro é se foste tu que assinaste as peças jornalísticas que o “Independente” publicou e que tanta polémica motivaram. Não foste, pois não? Adiante, também não interessa para o caso…
    O que eu não percebi é o que é que o “caso Freport” tem a ver com o texto que tu assinaste na última “NS’s” e que eu comentei ontem num post no meu blogue. Queres-me explicar? O que é que o “coiso” tem a ver com as calças? Conta lá.
    Um abraço também para ti e, como dizia o Solnado, “desculpa lá qualquer coisinha”…

    Zé Paulo

  • Você devia ser expulso do partido! É por causa de pessoas como você que o PS governa o nosso país. Tenha vergonha. Fretes são os que faz ao Sócrates quando ataca o Miguel Relvas!

  • Exmo. Sr. Anónimo,

    O teor do seu amável comentário faz-me supôr ser V. Exa., também, militante do PSD. Como tal, atrevo-me a sugerir-lhe a coerência de dar início a esse processo que, pelos vistos, lhe provocaria uma enorme satisfação. Bem-haja!

  • Caro Anónimo
    Expulso do partido Porquê?
    O jogo do siga o chefe, era em pequeninos.
    E vou comentar, porque você insultou o meu amigo Zé Paulo.
    Sim, eu e o Zé Paulo conhecemo-nos pessoalmente há muitos anos,ele sabe muito bem que a loira não é estúpida,vamos à genética, as mulheres dão a inteligência os homens o instinto.
    Pari dois rapazes, um economista com 27 anos e membro importante da JSD e não se cala, diz o que tem a dizer, pois que eu saiba dizem por ai, que vivemos em “Democracia” vou deixar-lhe um link para ver o jaez do rapaz.
    Cumprimentos
    Manuela Diaz-Bérrio

    http://sublegelibertas.wordpress.com/2009/04/02/carta-aberta-ao-prof-dr-carlos-santos/#respond

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