SE EXISTE ministro carrancudo e mal-disposto neste governo, esse ministro é, sem sombra para dúvidas, o da Economia. A crer nas aparências, ou seja nas suas aparições públicas, António Pires de Lima anda visivelmente zangado com o mundo. Enfrenta câmeras e interlocutores com um ar que toda a gente lhe deve e ninguém paga, como se estivesse a fazer o maior frete do mundo em aturar-nos. Talvez até esteja, não sei – mas para o caso pouco me importa, até porque ouvi dizer que quem corre por gosto não cansa… E certamente não fui eu ou qualquer outro que com ele se cruza do lado de cá do ecrã que tem qualquer responsabilidade em ele ter trocado as cervejas de Leça do Bailio pelo gabinete da rua da Horta Seca. Sorrisos, quando miraculosamente os há, são sarcásticos, quando não a roçar o cinismo; o tom de voz também não é famoso, apetece que lhe respondamos com o mesmo acinte e mesmo má-educação com que ele brinda quem está na sua frente; e os esgares, nunca percebi se de dor ou se em função de algum tique, esses também não ajudam à festa.
Decididamente Pires de Lima é antipático, faz gala nisso e suspeito que faça disso mesmo o que se chama “um género”. Está no seu pleno direito, desde que não incomode, que é como quem diz que o seja apenas lá em casa dele ou para quem esteja disposto a aturar as más-criações, circunscrevendo assim essa maneira de estar na vida a um círculo mais íntimo. Porque o dr. Lima, caso tenha esquecido, é ministro, possui responsabilidades, deveres, obrigações. E direitos, claro. Mas há um direito que ele não tem, que é o de incomodar-nos com a sua insuportável má-disposição. Se acordou com os pés de fora, é um problema dele e, quando muito, de quem lhe fez a cama. Não nosso, dos que o temos de aturar…