José Paulo Fafe

Um fantasma chamado António Capucho

CAPUCHO

EXISTE EM Portugal um vasto grupo de pessoas que se têm a si próprias em grande conta. São gente que se leva excessivamente a sério, que parece acreditar nas aleivosias que deitam da boca para fora e que certamente  julgam que todos nós que, atónitos os escutamos, somos tolinhos ou mentecaptos e que não sabemos de onde vêm e o que verdadeiramente os move. António Capucho, que em Cascais ganhou o divertido apodo de “relógio suíço” (dado o seu invariável jeito e manha em não adiantar ou atrasar…) é um exemplo típico desse tipo de gente, quase sempre de falinha doce e mansa, sorriso melífluo, comportamento aparentemente irrepreensível, mas sempre com o cutelo pronto – mais para desferir o inevitável golpe pelas costas que propriamente para defender-se de qualquer hipotético ataque.

Capucho, que se tem a si próprio em grande conta, transpira vaidade e presunção. Intitula-se fundador do PSD sem que ninguém perca tempo em contrariá-lo; antecipa ao nome um “dr.”, invocando uma licenciatura tirada (imagine-se!) no Instituto de Novas Profissões; alardeia um curriculum político que mostra uma inegável e notável adaptação aos vários “ventos” que foram soprando no PPD/PSD ao longo dos anos; julga-se (até que alguém um dia se “chateie à séria” e resolva pôr tudo em pratos limpos…) o melhor e mais impoluto presidente que passou pela Câmara de Cascais; imagina-se até sentado nos cadeirões mais presidenciais deste País – sejam eles em S. Bento ou em Belém; e finalmente não se cansa de estar sempre na ponta dos pés, disponível para abichar qualquer lugar que lhe passe diante do nariz e que lhe proporcione penacho, mesmo que de poucas plumas – seja o dito cujo na junta de freguesia do Estoril, na assembleia municipal de Sintra, na câmara de Mafra, na presidência da Cruz Vermelha ou nos bombeiros de Alguidares de Baixo ou coisa que lhe valha. No fundo, o que Capucho quer mesmo é convencer-se a si mesmo que o País está prostrado aos seus pés. Coitado…

Mas o País não se prosta, nem se prostrou. Nem o País nem o PSD pelos vistos – que o preteriu como  candidato à câmara de Lisboa ou como  cabeça-de-lista em Lisboa, vendo assim Capucho frustradas as suas ambições de ser candidato à presidência da Assembleia da República. Foi o princípio do fim, passando o desolado Capucho a passear o blazer de tweed por tudo o que era televisão, sem esconder ressentimento, amargura e principalmente maus fígados. Um fim que teve o seu termo (passe o pleonasmo…) na sexta-feira, quando subiu ao púlpito da convenção socialista no Coliseu dos Recreios com um discurso que envergonhou até quem o ouviu e teve que aplaudir. As suas exéquias fúnebres começaram aí e terminaram hoje, quando conduzido ao caixão, ainda teve tempo para estender a mão e, segundo o jornal “i”, balbuciar: “Se o PS me convidar para vôos mais altos não digo que não“. A missa de eterna saudade, essa, será oficiada quando (e se…) o “fantasma” tiver a coragem de aparecer aqui por Cascais nas autárquicas de 2017…

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