JÁ AQUI tive, por duas ou três vezes, oportunidade para dedicar outros tantos posts, a Rui Machete – essa criatura exímia em passar entre os pingos da chuva, sempre lesto a abichar pareceres e cargos e que consegue, qual rolha de cortiça, manter-se sempre à tona de água e aproveitar de feição os ventos que vão soprando. Sobre ele nunca esqueço o facto de, num determinado período, ter presidido à comissão parlamentar que investigou os perdões concedidos por Oliveira Costa quando era secretário de Estado dos Assuntos Fiscais e, posteriormente, ter presidido ao Conselho Superior do BPN. Uma coincidência, é claro…
Mas o que me leva a dedicar alguma atenção a esta criatura é a leitura que estou a fazer do livro “Mário Soares, uma vida” e onde, pela boca do próprio biografado e outros protagonistas, são relatados dois episódios que revelam bem quem é o dr. Machete. Um prende-se com o pouco entusiasmo (“hesitação“, no dizer de Alfredo Barroso, então secretário de Estado da Presidência do Conselho de Ministros) que o então ministro da Justiça, ao invés dos seus colegas de governo, colocou na operação policial contra as FP-25; o outro, contado pelo próprio Mário Soares, quando à última hora e quase a embarcar para Roma, escutou estupefacto o argumento do seu ministro para não o acompanhar à audiência com João Paulo II no Vaticano, revelando ter sido “proibido” (sic) pelo cardeal-patriarca António Ribeiro, então em “guerra” com o governo chefiado por Soares a propósito da aprovação da Lei do Aborto.
É preciso dizer mais alguma coisa de alguém que, sendo ministro, achava dever mais obediência ao cardeal patriarca que ao chefe do governo?!