José Paulo Fafe

O meu amigo Alexandre Pais

HÁ PESSOAS que têm o “hábito” de ter razão antes do tempo. O meu amigo Alexandre Pais, um dos mais sólidos, sérios e brilhantes jornalistas que conheci ao longo dos meus mais de 20 anos de profissão, é desse tipo de pessoas. Durante anos, “entreteve-se” (e este “entreteve-se” é obviamente uma figura de estilo…) a imaginar e lançar projectos jornalísticos que, podendo não dar certo naquele momento, era certo e sabido que anos mais tarde o tempo iria provar da sua razão. Foi assim com o “Off Side”, porventura o primeiro jornal desportivo que abordou o futebol com outro olhar e linguagem; com a “Élan”, uma revista masculina que foi uma autêntica pedrada no charco naqueles anos ainda acinzentados; com a “Tomorrow”, que não só pelo formato, esta nova revista do “Expresso” me fez de algum modo recordar; pela “Teenager”, a primeira revista virada para os adolescentes e que foi pioneira no sector; e com a “Dona”, a primeira rival da “Nova Gente” e percursora desta verdadeira enxurrada de publicações dedicadas ao chamado beautiful people.
Como eu escrevi um pouco acima, o Alexandre é um dos mais sólidos, sérios e brilhantes jornalistas que conheci  – pena foi que só tenha trabalhado com ele nos meus últimos anos como jornalista… Quando o conheci, a mesquinhez de quem decidia tinha feito com que o tivessem “encostado” num (passe a expressão…) canto da redacção do “Tal&Qual”, onde aguardavam que o Alexandre, mais dia menos dia e cansado de algumas desconsiderações, batesse a porta e os poupasse à óbvia indeminização. Pediram-me na altura: “Faz-lhe a vida negra para ver se ele se vai embora, ele é muito caro…”.
Não fiz, bem antes pelo contrário – não descansei enquanto não encontrei uma “fórmula” que permitiu ao Alexandre ter a importância e o destaque que ele merecia na estrutura de qualquer jornal. Sem exagero, ao longo daqueles dois anos, o Alexandre foi o verdadeiro “pilar” do “Tal&Qual”, contribuindo com as suas experiência e notável sabedoria para, muitas vezes, dar alguma consistência a um jornalismo que tinha uma óbvia tendência para “pisar o risco”. E apesar de um ou outro “torcer de nariz” por parte de alguns mais susceptíveis, não havia texto que não passasse pelo seu exigente crivo, até para ele dar-lhe o seu indispensável “jeitinho” e uniformizar a escrita do “T&Q” – a começar pelos meus. Bons tempos esses… E depois também, note-se, existia o “outro” Alexandre Pais, o Alexandre fora do jornalismo – e esse era também era um Alexandre confiável, sereno, leal, discreto, alguém feito de uma “massa” que hoje não é muito vulgar encontrarmos.
Um dia, no Verão do último ano dos anos 90, resolvi deixar o jornalismo. O Alexandre, claro, ficou. E nem imaginam o gozo que me deu, poucos meses mais tarde,  a vê-lo, primeiro, à frente do “Tal&Qual”; depois a protagonizar o grande arranque do “24 Horas”; e finalmente a tomar conta do “Record”…
Não sei porque raio me deu para escrever sobre o Alexandre Pais, se calhar foi por lê-lo hoje de manhã na “Sábado”, onde escreve semanalmente uma página que é a primeira que eu procuro quando folheio a revista – talvez, não sei… O que sei, isso sim, é que as poucas saudades que tenho do jornalismo são as muitas saudades que tenho, tantas vezes, dele. Grande abraço, careca!

5 ComentáriosDeixe um comentário

  • Amigo ZPF
    Tu recordas bons amigos e bons profissionais ( e agradecidos,educados,pelo comentário que leio do próprio a quem envio um abraço ) e eu…..pois é…..
    Como dizem os nossos hermanos, “a mi me toca lo malo”…
    É que hoje é um dos dias mais tristes da democracia portuguesa,iria mais longe,de toda a História lusa…
    Fazem 10 anos que uma das maiores desgraças jamais imaginada caiu sobre o “nobre povo” e sobre a “Nação valente”.
    A única verdade é o ser “imortal”.
    Fazem hoje 10 anos que o maior malandro da História de Portugal ganhou as eleições com maioria absoluta e foi parar a São Bento.
    Depois de um golpe Palaciano de Sampaio a Santana Lopes e a um Governo com uma maioria absoluta estável na AR, (algo que a História julgará) o Partido Socialista ganha as eleições depois de eleger um líder publicamente notório pela “trapacice”.
    Já na altura se sabia quem era realmente o preso 44,mas os Socialistas na sede de poder, resolveram ignorar.
    O resultado está à vista!!!
    Da ascensão à queda total na mais fedorenta lama de onde jamais sairá, o 44 fez,desfez e mal.
    Mal para os portugueses,mal para o Partido cego que o elegeu líder,mal para os filhos (únicas verdadeiras vítimas familiares pois o resto é igual),mal para ele mesmo,vítima duma presunção,arrogância e esperteza saloia digna de um romance classe “Z”.(quase tão mau como a Sebenta que escreveu em Paris)
    Jamais um homem como este teria chegado ao poder num País de gente honesta,inteligente e culta.
    Que nunca mais Portugal tenha ao leme gente do calibre do Senhor Pinto de Sousa.

  • Desculpem lá meter-me na conversa, mas é sim, merecidíssimo.
    O Alexandre Pais foi meu diretor em alguns desses projetos à frente do tempo, conforme diz o Fafe. Portanto, estou à vontade para contrariar a tese do “imerecido”.
    Beijos aos 2,
    Moema Silva

  • Sem querer imiscuir-me ou sequer beliscar amizades do autor blogger e por ter chegado aqui meramente por acaso, portanto, sem nos conhecermos minimamente, gostaria de dizer, não por desmancha-prazeres, que poderia contraditar facilmente os elogios que o autor terá razões para fazer, seria estultícia minha desprezá-las, mas a cor do texto pode ser muito diferente tocando em muitos dos pontos abordados.
    Desde elencar o que terão alegadamente feito a alguém, quando esse mesmo também o fez em relação a outros (encostar, emprateleirar…) a méritos editoriais que desconheço em absoluto. Passando pela escrita do próprio, que é só de rir.
    Dos méritos editoriais, não vi nenhum bem sucedido, quase todos morreram aqui ou ali, lembro até essa revista, não recordava o nome, a Elan, que nem por ter gajas durou mais de uns meses. E o nado-morto Portugal diário ou da manhã ou parecido? Zero. O Record, em 2003, vendia 92 mil diários e em 2014 fechou com 43 mil com um breve parêntesis alheio (JQM) de um ano e picos sem interferir com a gestão de AP no diário desportivo que afundou completamente.
    E quanto a escrita, ui, ui, muito haveria a dizer, tenho até algumas coisas compiladas mas deve ser muito chato apresenta-las.
    Da peça, escrita, nunca mais esqueci um dos primeiros textos no Record, que começava assim: “Li há dias na TV Guia [ou 7 dias, por aí] que a fulana de tal e sicrano já andam”. Assim, um par qualquer que nada tinha a ver com uma coluna na última página de um pasquim desportivo “já andam”.
    I rest my case

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios são marcados *