José Paulo Fafe

O ego

NÃO VOU aqui referir mais uma vez a estima que sempre me mereceu António Capucho nem tão-pouco a gratidão que, enquanto cascalense, me merece como autarca da minha terra. Acho que já o fiz bastas vezes para o deixar claro e para que não restem quaisquer dúvidas quanto ao apreço que sempre tive por quem, à frente de uma equipa, resgatou Cascais de um longo e penoso sequestro.
Posto isto, não posso deixar de comentar alguma coisa do muito que se disse  sobre a óbvia e esperada sua expulsão de militante do PSD após ter encabeçado, em Sintra, uma candidatura à Assembleia Municipal contra o seu próprio partido nas últimas eleições autárquicas. E comentar o que o próprio, talvez embalado pela atenção que lhe foi dedicada nestes últimos dias, resolveu afirmar e que no mínimo denota uma triste e desajustada noção da realidade. Eu sei que todos nós temos o nosso ego – uns maior que outros e estranho seria António Capucho não o possuísse. Mas confesso que ao lê-lo afirmar, a propósito da sua expulsão de militante do PSD, que o seu partido está, assim, “a afastar-se da sua matriz social- democrata“, não pude deixar deixar de lembrar-me de uma piada que os brasileiros contam sobre os argentinos e que – perdoe-me Capucho – assenta-lhe que nem uma luva…  E reza assim: “Sabem o que é o ego? É o argentino que cada um tem dentro de nós!” Perguntarão: e onde é que Capucho entra nesta graçola? Pois… É que, atendendo à sucessão de declarações que ouvi da sua boca nos últimos tempos, António Capucho não tem um argentino dentro dele, tem, isso sim, uma vasta e enorme família de argentinos…
Agora mais a sério… Mas será que lembra a alguém interpretar a expulsão de Capucho, nas circunstâncias que ocorreu, como o PSD estando a afastar-se da sua matriz social-democrata?! Por amor de Deus! Que o PSD esteja de facto a afastar-se da sua matriz é uma realidade e não é de hoje – é de há bastantes anos e muito devido às políticas que tem vindo a protagonizar e a implementar nos seus últimos governos, com especial destaque para o actual. O que, convenhamos, não é propriamente a mesma coisa… 
Eu acredito que António Capucho se tenha a si próprio em grande conta. Terá porventura razões para isso, tudo bem… Mas há limites. Especialmente para esta fronteira, por vezes ténue, que Capucho tem-se tentado nos últimos tempos a ultrapassar, porventura encandeado com o palco e os holofotes que naturalmente têm contribuído para que se deslumbre com ele próprio. Até porque para Helena Roseta, já nos basta uma…

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