José Paulo Fafe

Lula: o fim de um ciclo?

PARECE QUE a aura de “santo milagreiro” do ex-presidente Lula da Silva já conheceu melhores dias. As eleições municipais do próximo dia 7 de Outubro não auguram grande êxito para os candidatos que nas grandes cidades foram impostos por Lula, mesmo contra a vontade e estruturas locais do próprio PT ou, nalguns casos, onde o antecessor de Dilma contribuiu (ou “deu a benção”…) para a ruptura com o Partido Socialista Brasileiro do seu aliado e presidenciável Eduardo Campos, actual governador de Pernambuco – casos de Fortaleza, Recife e Belo Horizonte. As últimas sondagens mostram os candidatos do PT sem grande (ou qualquer) chance de vencer a eleição nessas cidades, bem como em S. Paulo (onde Fernando Haddad, que foi imposto por Lula em detrimento de Marta Suplicy, poderá nem mesmo ir à segunda volta) e Porto Alegre. 
O “banho” que o PT está na iminência de sofrer daqui a pouco mais de 15 dias poderá implicar que, entre as dez principais cidades brasileiras (S. Paulo, Rio de Janeiro, Salvador, Brasília, Fortaleza, Belo Horizonte, Manaus, Curitiba, Recife e Porto Alegre), o partido de Lula não ganhe qualquer eleição, até porque o chamado “Distrito Federal” (Brasília) não é palco de eleição municipal, mas apenas para governador – o que ocorrerá apenas daqui a dois anos.
Com um PSDB dividido e também não em muito bons lençóis, com um PMDB agarrado que “nem lapa” ao PT, com um DEM (direita) praticamente inexistente (ainda que tudo indique ir conquistar a prefeitura de Salvador) e um nóvel PSD que ainda ninguém percebeu que força realmente tem, avizinha-se o crescimento e fortalecimento do PSB de Eduardo Campos que, de pré-candidato a vice-presidente numa “chapa” formada com o PT em 2014, poderá vir a ser, já daqui a dois anos, rival numa eleição presidencial de Dilma Rousseff – isto para quem acredita, como eu, que Lula não será mais candidato ao palácio do Planalto.
Uma última nota: há quem defenda que este “ocaso” do PT nas principais brasileiras tem muito (ou só) a ver com o julgamento do chamado “mensalão”. Pode ser… – ainda que ache que a repercussão das sessões do Supremo Tribunal Federal não é assim tão vasta. Inclino-me mais para a tese dos que defendem que o “ciclo Lula” (e a sua capacidade em “virar uma eleição“) está a chegar ao fim – principalmente nas grandes metrópoles e junto do eleitorado mais esclarecido. E quem irá “lucrar” com esse ocaso é, nem mais nem menos, que a fria, pragmática e (eu arrisco…) algo maquiavélica Dilma a quem – ela sim – o julgamento está a servir como uma excelente oportunidade para “limpar” um partido que nunca foi dela, colocando as suas “peças” nos lugares-chaves e preparando calma e serenamente a sua recandidatura. Vamos ver…

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