José Paulo Fafe

Estão (mesmo) todos na rua…


ONTEM À noite fiz três telefonemas para três amigos no Brasil. Do Rio de Janeiro, primeiro o Cláudio(publicitário, 60 anos e um democrata convicto de toda uma vida) atendeu-me entusiasmado, mas praticamente sem conseguir ouvir-me: “‘Fafi’, estou na passeata!“; em Brasília, a Marcela, advogada, ainda a ver chegar os 40 e que aparentemente sempre navegou em águas próximas do que é chamado de “esquerda”, respondeu-me com um smsesclarecedor: “Estou na rua, frente ao congresso #venhaparaaruavctambem“; e em São Paulo, a minha amiga Fátima, a trabalhar numa KPMG da vida, tinha saído mais cedo e estava na Avenida Paulista a celebrar a descida do preço dos transportes públicos – ela que não dispensa nem por um minuto o seu BMW blindado… 
Todos, mas todos eles, estavam na rua! Num protesto comum, lado a lado com o “zelador” dos seus condomínios, com as suas “diaristas”, com os empregados a quem pagam mensalmente salário, com os desprotegidos que por muitas “bolsas nãoseiquê” que recebam não conseguem ter um padrão de vida minimamente digno, com os favelados e até mesmo com aqueles que aproveitando a confusão não perdem a oportunidade para partir umas montras e saquearem o que lhes aparecer à frente. 
Depois voltei para a posição 172 da Zon – o Canal Record News, que desde há dias me permite acompanhar as manifestações por todo o Brasil: 300 mil no Rio, mais de uma centena de milhar em São Paulo e distribuído por tudo o que é cidade, 40 mil em Belo Horizonte, nãoseiquantosmilhares em Campinas, outros tantos em Ribeirão Preto, o Planalto e o Itamaraty sitiados em Brasília, enfim um país na rua e em polvorosa…
Adormeci, já o relógio marcava as quatro da manhã, com a convicção que cada dia que passa, as coisas pioram e que todo este movimento é transversal – política, etária, socialmente, cercando uma Dilma e um PT nesta contradição em que vivem e em que tentam, sem sucesso, fechar os olhos a uma realidade adversa e que os encosta progressivamente “às cordas”. E mais grave é que, olhando para a cena política, apenas encontramos protagonistas que, para o comum dos mortais e pese alguma tentativa para descolar do sistema, representam apenas “mais do mesmo”, abrindo assim caminho ao perigoso populismo e aos que, com aquela aura de justiceiros e fama de incorruptíveis, surgem sempre nestes momentos como se de “messias” salvadores se tratassem. O que é perigoso, muito perigoso…

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