AS RECENTES declarações de José Manuel Durão Barroso e em que o antigo chefe de governo atribui a “opções económicas falhadas” a crise económica que Portugal atravessa são de uma desfaçatez a toda a prova, especialmente por parte de quem chefiou o executivo durante mais de dois anos (2002-2004) e possui óbvias e naturais “culpas no cartório” na actual situação. Mas Durão, “cego” no seu afã de vir a suceder a Ban Ki Moon à frente da ONU, resolveu agora, com ridículos e despropositados tiques professorais, tentar agradar aos seus amigos alemães e de uma forma vergonhosa atrever-se a dar lições e alijar as responsabilidades que naturalmente também lhe cabem eque númereos e estatísticas comprovam à saciedade. Diga-se em abono da verdade que bem melhor esteve o seu antecessor António Guterres que, ainda há poucas semanas, teve a humildade de publicamente, através da RTP, em assumir a sua quota-parte de responsabilidades na crise que Portugal atravessa: “Todos aqueles que exerceram funções em Portugal têm uma responsabilidade no facto de nós, até hoje, ainda não termos sido capazes de ultrapassar esses défices tradicionais, essa incapacidade tradicional para competir em plano de verdadeira igualdade com os nossos parceiros, nomeadamente no quadro europeu“, afirmou Guterres, tendo então ainda oportunidade para reconhecer que “ainda não fomos capazes – e eu próprio porventura também o não fui – de re-situar o país por forma a pudermos garantir aos nossos cidadãos melhores níveis de emprego e de bem-estar“.
Durão e Guterres têm muito em comum: ambos foram primeiros-ministros; os dois viraram costas ao País quando perceberam que a situação era bem mais complicada que supunham; hoje um está em Bruxelas como presidente da Comissão Europeia e outro em Nova York como Alto-Comissário da ONU para os Refugiados; se os portugueses tiverem memória curta qualquer um deles poderá vir a ser potencial candidato a Belém; e são dois dos nomes que mais se perfilam para secretário-geral da ONU, se a escolha recair desta feita num europeu, algo que não acontece desde que o austríaco Kurt Waldheim ocupou o cargo (1972-1981).
A diferença entre ambos ficou agora bem patente – enquanto um (Durão) não olha a meios para alcançar os seus objectivos e não hesita em tentar fazer de todos nós tolos, o outro (Guterres), tem a destreza e a argúcia de saber como (re)conquistar a simpatia e o afecto que um dia o conduziram a S. Bento. Essa é a diferença entre quem nunca conseguiu ver-se livre do dogma que o formou e moldou na juventude e quem sempre soube perceber que o tempo e uma aparente humildade apagam até as prestações mais penosas que se possam ter tido e protagonizado…
Nem mais, para dizer tudo.
tbm
zpf,
Não venha com tretas.
O “porventura” de António Guterres é todo um discurso e demonstra que, em termos de hipocrisia e cinismo, Durão Barroso é um menino de coro ao pé dele.
Amado Lopes,
Não é “treta” – é a minha opinião.
ZPF
“Diga-se em abono da verdade que bem melhor esteve o seu antecessor António Guterres que, ainda há poucas semanas, teve a humildade de publicamente, através da RTP, em assumir a sua quota-parte de responsabilidades na crise que Portugal atravessa”
Isto é treta.
Amado Lopes,
Repito: é a minha opinião. Tem outra? Óptimo. Ainda bem.
Percebeu? Ou ainda não?
ZPF
zpf,
O que pensa de Durão Barroso e de António Guterres é opinião. Mas dizer que António Guterres assumiu “a sua quota-parte de responsabilidades na crise que Portugal atravessa” não é opinião, é estabelecer um facto. E, clara e inequivocamente, esse “facto” não corresponde à realidade uma vez que considerar a possibilidade de se ter feito algo não é nem nunca foi admitir que se fez esse algo.
Nem sequer com o Acordo Ortográfico e a “nova gramática”.
Percebeu? Ou ainda não?
Quem parece não ter aqui percebido o quer que seja é o sr. Amado Lopes – muito possivelmente porque não quer – e está no seu direito, diga-se de passagem.
Irá desculpar-me, mas não vou perder mais tempo com discussões de xaxa, tenho mais que fazer. Mas não posso deixar de referir-lhe que quando alguém (seja ele quem for…) afirma algo como o que Guterres afirmou – ainda para mais comparado com as recentes e tristes declarações do seu sucessor, feitas ao jeito de quem nunca teve nada a ver com nada – está obviamente a assumir a sua quota-parte de responsabilidades enquanto chefe de governo na situação que o País atravessa. E essa interpretação não tem a ver com “gramáticas” e “acordos ortográficos” novos ou velhos, tem a ver isso isso com o distanciamento e a isenção que nos permite “ler” e consequente possuir uma opinião sobre o mesmo.
Só para terminar: quem me conhece, sabe bem qual foi sempre a minha opinião e posição quanto aos governos do engenheiro Oliveira Guterres, até porque na altura era jornalista e rara era a semana em que não tinha o ensejo de publicamente afirmá-la. Como também nunca escondi de ninguem as minhas simpatias e até (!) filiação partidária – mesmo enquanto jornalista. Considero-me por isso clara e totalmente “insuspeito” na opinião, repito, opinião que expressei aqui nesta minha “casa”. O sr. Amado Lopes não gostou? Problema seu… Como dizia o outro – e não podia vir mais a propósito… – “é a vida”!
Cumprimentos,
ZPF
Já tinha percebido antes. O zpf gosta menos de Durão Barroso do que de António Guterres e talvez seja isso que o leva a elogiar este por algo que ele não fez.
É também assim que se perde a credibilidade.
E concordo consigo em que esta discussão de xaxa não merece continuação.
E lá está vc., chiça… Não é gostar mais ou menos de um ou de outro… É ter (a minha) opinião. Que é minha. Ponto final.
PS – E quanto a credibilidade ou ausência da dita, sei lá quem é o sr. para ter que aturar os seus juízos de valor. Olha que essa…
Ponto final.
Esse Amado Lopes deve ser heterónimo de Durão Barroso. Ou então é a fiel e sempre atenta escudeira Leonor Ribeiro.
Nuno Sousa,
Não tenho qualquer motivo para defender ou elogiar Durão Barroso e não foi isso que fiz. Apenas me chateia grandemente que, para fazer Durão Barroso parecer pior por comparação, se elogie alguém como António Guterres que NÃO ASSUMIU responsabilidades próprias “na crise que Portugal atravessa”.
Não apenas Guterres colocou “todos aqueles que exerceram funções em Portugal” em pé de igualdade (o que resulta em ninguém ter responsabilidades próprias) como logo a seguir teve a suprema hipocrisia de dizer que “porventura” ele também poderá ser incluído na extensa lista.
Além de que dizer que, a par de muitíssimos outros, também não se conseguiu evitar algo é completamente diferente de assumir responsabilidades por se ter contribuído para esse algo.
Ter a “humildade” em “assumir a sua quota-parte de responsabilidades” é falar na primeira pessoa (deixando cada um dos outros falar por si) e reconhecer o que, por acção ou omissão, se fez de mal. António Guterres não o fez.
Nunca é tarde para apoiar quem tem razão, por isso: pior do que a absurda apoteose de palavra ‘opinião’, da qual muitos têm utilizado como escudo para qualquer discussão, são comentários como o do Nuno Sousa — haja paciência.