A VIDA não está fácil para a presidente Dilma Rousseff. Independentemente de qualquer impecheament, cuja oportunidade ou justificação levanta as maiores dúvidas até em significativos e importantes sectores da oposição, a sua situação é cada vez mais periclitante em termos políticos – tanto pela crise económica que começa a atingir um país que se julgou durante anos imune aos efeitos de uma “onda” que varreu os cinco continentes, como pelo próprio PT, onde começam a surgir cada vez fortes focos de contestação à política do governo e onde o próprio Lula já não esconde algum desconforto público relativamente à sua sucessora. Embora quem conheça Dilma garanta que ela dificilmente abandonará o Planalto pelo próprio pé, a verdade é que começam-se a sentir fortes indícios que ela poderá vir a ser encostada à parede – até por uma conjugação de factores que lhe retirarão margem de manobra para continuar a governar. E o pós-Dilma, como será? Passará por quem? Partindo do princípio que uma hipotética renúncia da actual presidente não atingirá o seu “vice” Michel Temer, será este a ocupar o seu lugar. Mas para isso terá que “costurar” um acordo, que acautele os interesses do líder do Senado Renan Calheiros e Eduardo Cunha, o controverso presidente da Câmara de Deputados (também eles destacados e influentes membros do mesmo e fisiológico PMDB) e inclua outros sectores políticos, nomeadamente um “certo” PSDB que se mostra disposta a participar numa solução de compromisso, como é o caso de José Serra que, segundo se diz, poderia ser o próximo ministro da Fazenda de um governo para três anos.
Essa solução poderia cair que nem sopa no mel no adiado sonho presidencial de Serra que, derrotado por Lula em 2001 e por Dilma em 2009 em duas “corridas” ao Planalto, tentaria certamente assim repetir o trajecto de Fernando Henrique Cardoso que, em 1994 e após ter ocupado a pasta da Fazenda durante o governo de Itamar Franco (o vice que sucedeu ao deposto Fernando Collor), alcançou a Presidência – muito graças a um bem-sucedido “Plano Real” que estabilizou e ajudou a retomar a economia brasileira.
Desconheço se a história se repetirá, ou não. Mas uma coisa é certa: Serra, que alia uma reconhecida competência e um passado político irrepreensível a uma clara ausência de carisma, contará com um adversário de peso dentro do PSDB nessa sua natural pretensão presidencial: o mineiro Aécio Neves que, ainda que derrotado por Dilma há um ano, mantém intacta a esperança de cumprir o sonho que, na prática, o seu avô Tancredo Neves não conseguiu cumprir: ser presidente do Brasil.