SE HÁ alguma coisa que verdadeiramente me irrita em períodos eleitorais, é esta irresistível tendência dos supostos “independentes” que, num ápice e logo que lhes acenam com um lugarzito em S.Bento, se apressam a aceitar convites para integrar (quando não mesmo encabeçar…) listas de candidatos a deputados dos nossos dois maiores partidos. Surgem sempre com um ar de quem sofre de uma incómoda prisão de ventre, desdobrando-se em mil e um argumentos que possam justificar o seu envolvimento nessa “coisa” da chamada “classe política” que tanto fizeram gala em desdenhar e que, ao longo dos anos, tantos minutos de TV e Rádio ou linhas de jornal lhes rendeu como “observadores” ou “comentadores” independentes. Quando lhes perguntam o “porquê” da sua opção, lá vêm os inevitáveis patátipátátás do tipo: “Não consegui dizer que não num momento como este que o nosso País atravessa“; ou “não imagina o quanto tive de pensar antes de aceitar um convite que me deixou surpreendido e até perplexo“; ou “só eu eu sei o sofrimento interior que tive de ultrapassar para envolver-me na política activa, mas nunca poderia recusar em nome dos valores que sempre defendi“; e, por exemplo, “senti que era meu dever enquanto cidadão dar o meu contributo“. Sabem que mais? Vão mas é dar banho ao cão!