ENTREI NO restaurante e logo pela pinta de quem me recebeu percebi que era português. A inversa também deve ter sido verdadeira porque foi a primeira vez, nas centenas de vezes que me sentei a uma mesa de um restaurante no Brasil, que não me trouxeram primeiro a carta de vinhos que a ementa propriamente dita. Escusado será dizer que não demorou a troca de perguntas, do tipo “então o meu amigo é de onde?“, “está aqui há muito tempo?” e o invariável “… e está-se a dar bem?“. E então é assim: o “meu amigo” é de Lisboa, alfacinha de gema, lagarto até mais não e, como se não chegasse, dono, até uns meses, de um restaurante ali para os lados das Avenidas Novas. E funcionava bem? “Muito bem. Fazia cento e tal almoços a 7 euros e meio o menu, dava para o gasto…“. E então? “Então, o senhorio achou que, lá por eu ter a casa cheia todos os dias, podia-me aumentar a renda de mil e 750 para 4 mil euros…“. Pois… “Sabe que mais? Passei a casa, recebi a massa, metade, porque o resto já não deu para receber porque os gajos faliram e, olhe, vim para cá!“. E agora? “Agora? Estou aqui a trabalhar, ganho o suficiente, a minha mulher está aí a chegar e seja o que Deus quiser…” E o senhorio? “Esse coitado, de tanto querer com nada ficou. Ninguém pegou na casa, está de portas fechadas vai para três meses!” Não resisti e lá lancei a pergunta da praxe ao homem. A resposta veio pronta: “Saudades? Tenho e muitas! Mas não dá, amigo. Sabe qual é o problema? Pedem-nos para apertar o cinto, mas não nos dizem até quando. E assim não dá mesmo. Se me dissessem, estilo olha é até Março de 2017 ou Outubro de 2018, tudo bem, a malta aguentava. Mas não nos passam cartão, tratam-nos como se não existíssemos…“. Pois é, amigo Mário, pois é!