LEIO QUE morreu José Hermano Saraiva. Adivinho o que por aí vem – longos e encomiásticos elogios fúnebres, aqueles rapapés bacocos e pecando pelo exagero a que o País já nos habituou nestes momentos. Vão-lhe chamar um pouco de tudo, certamente até historiador e democrata – a ele, que era formado em Direito e foi fervoroso e dedicado ministro de Salazar (e Caetano)… Aliás, há uns anos, em plena democracia, e numa entrevista salvo erro concedida ao “Diário de Notícias”, o agora desaparecido Saraiva afirmava alto e bom som e com um descaramento inaudito que tinha sido chamado ao governo por Salazar por representar a “ala democrática” (sim, leram bem…), a “ala democrática do regime“! José Hermano Saraiva pode ter sido um bom comunicador, apresentado com graça e um estilo próprio aqueles seus programas de televisão onde conseguia “embrulhar” os factos da nossa História de forma leve – ainda que (muitas vezes) duvidosa – mas não foi mais do que isso. Peço desculpa, foi… foi ministro da Educação na greve académica de 1969 e representou o pior que o regime de então mostrou: a repressão e a intolerância, pactuando com cargas policiais, prisões de activistas estudantis e promovendo expulsões de alunos e professores, etc. E foi, sempre que lhe convinha, um aplicado, fiel, voluntarioso e disciplinado apaniguado de quem servia. E para quem duvide, aqui fica, com a devida vénia, uma breve transcrição de um post publicado por José Adelino Maltês:
“29 de Dezembro de 1966. Encerram, na Assembleia Nacional, as comemorações do 40º aniversário da Revolução Nacional. Na presença de Salazar, discursam Baltazar Rebelo de Sousa, José Hermano Saraiva e Melo e Castro. Este último, de forma inconformista, dirige-se, deste modo, a Salazar: “ainda um grande serviço tem de pedir- se- lhe, após tantos e tamanhos que tem prestado … o de afeiçoar os mecanismos da governação … de modo que o país possa progredir à medida do tempo presente e sem que tenha de depender do impulso da sua autoridade ou de abrigar-se à sombra do seu prestígio. Conclui defendendo a necessidade de autêntica vida representativa, à participação do maior número nas tarefas do governo que a todos respeitam”. Os homens do telejornal ficaram embaraçados. Não tinham gravado o discurso de Saraiva que foi o menos crítico. Logo, obrigaram-no a repetir o discurso para um hemicilo vazio e transmitiram-no depois, com aplausos artificiais“…
PS – Reconheça-se no entanto a José Hermano Saraiva ter tido a vergonha que Veiga Simão, seu sucessor na pasta da “Educação Nacional”, nunca teve. É que ao invés deste último que, depois de reitor de Salazar e ministro de Caetano, ainda teve lata para, ao seguir ao 25 de Abril, ser embaixador de Spínola, ministro de Soares (e de Guterres) e director-geral de Cavaco, Saraiva nunca teve a tentação de ocupar cargos públicos. Valha-lhe isso…
Descanse em paz.
Foi muito mais que nunca muita gente será……..Será falado sempre quando muitos nem o são agora………..
Nunca roubou ninguém, como estes fazem agora. Nunca ludibriou ninguém como estes fazem agora. Nunca lhe deram Licenciaturas, como a estes de agora. Na política não vejo diferença alguma da de agora. Os mesmos vícios, os mesmos 3 gatos a mamar, a mesma marginalidade. Só que antes roubavam muito menos e havia mais ouro no Banco de Portugal que na Reserva Federal Americana.
Os democratas, como ousa chamar a esta gente do pós-25, como deixaram Portugal?
E quantas vezes se deixam criticar? Você é um exemplo. Quando não lhe convêm, não publica os nossos comentários. Democratas….Está bem…
Pois é, minha senhora… perdeu uma excelente oportunidade para coibir-se de me acusar de “silenciá-la”. Apenas não publiquei os seus dois anteriores comentários porque, pura e simplesmentemente, não lhes encontrei qualquer nexo ou lógica. Apenas (e só) isso…
Quanto ao dr. Saraiva – pessoa por quem nunca nutri grande consideração – aqui fica, democraticamente, a sua opinião. Que não é (obviamente) a minha. Para mim, a figura do dr. Saraiva auto-intitulado historiador é indissociável da do dr. Saraiva ministro da Educação Nacional que dava aval a cargas policiais sobre estudantes e proibia professores de leccionar com base em informações da PIDE. Percebeu?
Caro José Paulo Fafe
Morreu um grande comunicador, que descanse em paz!
Quanto a alguns comentários, olhe, que estejam em paz, já que assim se sentem, até e cito: Só que antes roubavam muito menos…
Olhe, vá tendo paciência…
Abraço