PARA QUEM, como eu, anda pelos cinquenta (e muito poucos, já agora…), este delicioso livro de Helena Matos é um estímulo à memória, uma recordação permanente, um desfiar de nostalgias que nos conduzem a um País tão diferente quanto cinzento e pequenino – isto apesar de todos os então ultramares da vida. A quem nasceu depois, “Os filhos do Zip Zip” se calhar pouco diz. Mas quem se lembra, por exemplo, dos “Porfírios“; dos “Móveis Baía“; do drugstores como o “Apolo 70“; dos desenhos do José de Lemos e do seu “Riso Amarelo” no “Diário Popular“; dos açambarcamentos; dos bancos Pinto de Magalhães e Fonsecas & Burnay; da “Casa Africana“; do Mário Castrim; da Telefunken; dos “Intróito“; do “Love Story“; do “Vison Voador“; do racionamento de gasolina; dos festivais de jazz de Cascais; dos cortinados da “Trevira“, do detergente “Ajax“, dos cigarros “Kart” ou das camisas “Rosa Negra“; dos “hippies” e da “droga, loucura, morte“; das “Conversas em Família” e do “Mundo de Aventuras“; do Christian Barnard e dos seus transplantes de coração(!); da chegada à Lua; dos desvios de aviões; da família Prudêncio; do “há sempre um Portugal desconhecido à espera de si“; da “Dom Quixote” e da “Europa América“; da “Tulicreme” e do “Carrossel Mágico” do “Franjinhas“; do Michel Vaillant e da “Dyane 6“; dos gelados “Rajá” e, claro; do próprio “Zip-Zip” – para esses, repito, os que andamos pelos cinquenta, este livro é uma obra tão bonita quanto indispensável.