DE HÁ uns meses a esta parte, especialmente após as eleições europeias, grande parte (para não dizer a imensa maioria…) dos nossos analistas políticos prognosticava e anunciava a “morte política” de José Sócrates, vaticinando uma mais do que certa derrota nas eleições legislativas de 27 de Setembro. E de facto o desaire sofrido nas europeias, somado às mil e uma “trapalhadas” em que o primeiro-ministro se viu envolvido nos últimos anos (o registo biográfico rasurado; a apressada e mal-amanhada licenciatura a um domingo numa universidade onde, para além dos professores serem amigos de longa data, lhe foi permitido fazer exames por fax(!); a assinatura de projectos de inenarráveis casas na Guarda que alegadamente não eram da sua autoria; o valor declarado na escritura de compra de um apartamento em Lisboa e que era aparentemente bastante inferior aos valores praticados pelo mercado imobiliário; e o já célebre e cada vez mais intrincado “caso Freeport”) e aos inúmeros conflitos que o seu governo protagonizou com algumas classes profissionais (professores, por exemplo) justificava de algum modo a lógica de quem, à partida, considerava o líder socialista como “condenado” a perder as eleições.
Confesso que nunca fui um grande seguidor dessa tese. Não porque considerasse despicientes todos os “casos” e polémicas que envolveram Sócrates e o seu governo, mas fundamentalmente porque há muito que reconheço ao actual chefe do governo uma notável capacidade de sobrevivência, em grande parte devido à obstinação, teimosia e determinação que caracterizam a sua personalidade. Outro no seu lugar dificilmente possuiria estrutura psicológica para suportar situações que, quer se queira quer não, tendem a debilitá-lo politica e pessoalmente como é o caso de todo o “folhetim” do licenciamento do “Freeport” de Alcochete e em que, por mais que negue o seu envolvimento, é continuamente salpicado pela evolução do processo que, desde que atravessou fronteiras, tem “arrastado” muitos dos que com ele trabalharam no Ministério do Ambiente. Isto já para não falar da sua surrealista licenciatura e cuja polémica conduziu mesmo ao encerramento de uma universidade… Mas Sócrates aguentou. Justificou o injustificável, vitimizou-se, chegou mesmo a conseguir passar de acusado a acusador. Reconheça-se: notável!
Vem isto a propósito do debate que assisti na última terça-feira e que opôs o primeiro-ministro a Francisco Louçã. O Sócrates que enfrentou o sempre bem-preparado líder do Bloco de Esquerda mostrou ser alguém que leva as coisas a sério, que tem um “killer instinct” próprio de um predador político e que “encostou às cordas” um adversário que raramente revela atabalhoamento (e Louçã revelou-o). No fundo, Sócrates revelou-se o que normalmente se denomina como “um politicão” – isto numa ocasião em que, estrategicamente, era fundamental “estancar” alguma fuga de votos que pode existir do seu eleitorado para a esquerda mais radical.
Posso estar enganado, mas “cheira-me” que na noite do próximo dia 27, José Sócrates, ainda que sem maioria absoluta, terá motivos para sorrir. Quanto mais não seja porque, lá mais para o fim do ano, irá conhecer o “seu” quinto líder do PSD desde que chegou a S.Bento…
in “+Cascais”
Peço desculpa pelo meu desabafo, mas…
A entrevista cheirou-me a…
engate!!!
(Como os vejo tão preocupados com as “uniões-de-facto”)…