José Paulo Fafe

Soares by Joaquim Vieira


ACABEI DE ler há dois ou três dias as mais de 800 páginas do livro “Mário Soares, uma vida“, de Joaquim Vieira. Antes de mais diga-se em abono da verdade que, a partir de agora, quem quiser estudar a figura e a personalidade de Mário Soares terá necessariamente de recorrer a esta obra que, convenhamos, é completa, rigorosa q.b. e traça de modo aceitável o percurso político de alguém que – quer queiram quer não – é,  a par de Salazar, a grande referência política portuguesa destes últimos dois séculos.
Pena é que o biógrafo não tenha conseguido resistir a entrar por caminhos que não se coadunam com uma biografia “consentida” ou “colaborada”, nomeadamente quando aborda detalhes da vida íntima de Soares e que – mais que para o antigo Presidente – são penosos e desagradáveis para terceiras pessoas. Porque se este trabalho fosse o que normalmente se denomina como “biografia não-autorizada”, seria até admissível que Vieira pudesse revelar pormenores que, ainda que não possuindo qualquer importância histórica, o ajudassem a traçar a personalidade do biografado. Agora neste caso concreto e até tendo em conta o que é relatado na introdução, nomeadamente a disponibilidade mostrada por Soares em colaborar na feitura da obra,  acho de profundo mau-gosto a opção de Vieira trilhar por esses caminhos. E prefiro não acreditar, ao contrário de um amigo meu, que o tenha feito por “vingança” – no caso por há uns anos atrás o antigo Presidente, à frente de três ou quatro colegas do então jornalista do “Expresso”, ter insinuado que este era “rachado”, ou seja que tinha “falado” na PIDE. Algo que é relatado na introdução, mas que José António Saraiva (que actualmente não morre de amores pelo seu antigo director-adjunto), já há uns tempos, se tinha encarregue de contar num dos seus livros autobiográficos…

6 ComentáriosDeixe um comentário

  • Não posso considerar Mário Soares como uma das duas grandes figuras políticas dos dois últimos séculos. E D. Pedro IV? E Pina Manique? E Fontes Pereira de Melo? E D. Pedro V? E D. Carlos? E o inefável Afonso Costa? E Paiva Couceiro? E Cunhal? E tantos que se bateram, tanto como Soares, pela Democracia?
    Não li o livro de Joaquim Vieira e concordo que qualquer intimidade perde em tornar-se pública. Mas, nas a ego trip que estes trabalhos consagram, são um desvio calculado.
    Bj Inez Dentinho

  • A ser verdade o que conta, isso revela bem o caracter desse Joaquim Vieira que, não esquçamos, é (ou foi) “provedor de leitor” do Público…

  • Dra.Inês
    Cunhal NUNCA se debateu por Democracia alguma mas sim por outra forma de ditadura MUITO mais feroz e sanguinária que a de Salazar que tão mansa era que lhe permitiu estudar Direito na cadeia.
    Na URSS estudavam ursos polares na Sibéria horas antes de morrer congelados onde eram deixados a sucumbir de frio quando não os fuzilavam logo.
    Há coisas que não podemos deixar passar e esta é uma delas.
    Misturar Cunhal com Democratas NUNCA.
    Com consideração
    Maria Lisboa

  • Inez,

    Eu referia-me aos séculos XX e a este – o XXI.
    E a minha afirmação parte de um princípio (acredito que algo discutível, no segundo caso…) em que Salazar e Soares foram os “pais” dos dois regimes que “marcaram” estes últimos 113 anos.
    Beijinho,
    ZP

  • Juju,

    Leia, leia – que para além de tudo vai-se divertir com algumas passagens. A ida ao Vaticano é de ir às lágrimas e a do banquete em Queluz com o Andreotti é impagável. Entre muitas outras…
    Beijinho,
    ZP

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