José Paulo Fafe

"Só os burros é que não mudam"

BURROS

HÁ MUITOS (mas há muitos, mesmo…) anos, andava eu a fazer uma reportagem sobre o que viria a ser o PRD, coube-me entrevistar um autarca de Trancoso, Morgado Baptista de seu nome, salvo erro. Se não estou enganado, o homem já tinha passado por 2 ou 3 partidos e preparava-se então para ser um dos fundadores do que então era conhecido pelo “partido do Eanes”. Lembro-me que a dada altura da conversa, perguntei-lhe se essas suas mudanças de partido não poderiam prejudicar a futura organização de que era um dos mais entusiastas dinamizadores.  Com um ar de gozo, o autarca trancosense disparou: “Ó homem, só os burros é que não mudam!“. Nunca mais ouvi falar dele, nem tão-pouco soube dos seus sucessos ou insucessos políticos. Mas uma coisa é certa, jamais esqueci a justificação que me apresentara para aquela sua tendência de “salta-pocinhas”. E sempre que alguém surge pela frente, falando deste ou daquele, que antes era de um lado e agora é de outro, certo e sabido que me vem à invariavelmente à lembrança aquela “máxima” que, verdade seja dita, também começou a servir-me para passar um verdadeiro “atestado de inteligência” para muito boa gente que por aí se passeia e que cruzou o espectro político-partidário à velocidade-luz. Não é que não ache que isso seja uma regra e se aplique a todos os que, por uma ou outra razão, mudaram de campo – até porque burros há em toda a parte. Mas há pessoas nessa situação que, simpatize ou não com elas, eu abstenho-me de duvidar da sua inteligência. Quem? Da esquerda para a direita, Durão Barroso, Zita Seabra ou José Manuel Fernandes, por exemplo;  e no sentido contrário, estou a lembrar-me do inefável Freitas do Amaral, que chegou a andar de braço dado com o dr. Louçã numa manifestação “anti-imperialista”, do hoje autarca socialista Basílio Horta ou mesmo do advogado Júdice, que um “certo PS” tanto estima e mima…

Houve também quem “geograficamente” não tenha feito uma “viagem” muito distante em termos de “localização” partidária, mas se analisarmos o que ontem defendiam ardorosamente e hoje proclamam, convenhamos que existe um “fosso” gigantesco e que, em tempos como por exemplo do célebre PREC, a sua transposição era tarefa praticamente impossível. Estou a lembrar-me agora de José Magalhães, que encontrou no PS guarida após uma sectária e militante devoção aos ideais comunistas; de Ana Gomes que trocou o maoismo do MRPP pelas águas mais conservadoras do chamado socialismo democrático; de Jorge Coelho que a dada altura da vida encontrou no PS a “zona de conforto” que já não possuía na UDP; ou de Ferro Rodrigues que após o 25 de Novembro, de que foi um foi protagonistas mais entusiastas e voluntariosos , trocou a utopia do poder popular pela segurança da democracia burguesa.

A quem eu por motivos óbvios não consigo aplicar a velha “máxima” da autarca beirão é à agora candidata presidencial e antiga presidente do PS Maria de Belém que, nos tempos da “outra senhora”, revelou a “massa” de que é feita, quando furou a greve académica de 1969 em Coimbra…

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