O MEU amigo José Ferreira Fernandes garante que só falou uma vez com o Roby Amorim. Eu acho que lhe fui apresentado pelo Joaquim Ferreira Pinto, o “Pingas” que não vejo há anos, meu colega de “Tal&Qual” e comparsa de noitadas. Conheci-o mal, mas o suficiente por o ter na conta de alguém sério, profissional e que lidava como poucos com aquilo que um jornalista tem de mais precioso – a palavra. O Zé Ferreira Fernandes escreveu um texto muito bonito sobre o Roby. E eu não resisto em transcrevê-lo:
“Uma das minhas canções é La Mer, Charles Trenet canta-a no feminino, como é em francês, e eu sempre a ouvi sem estranhar o género. Alguém me disse que o mar, enquanto foi calmo e doce como o Mediterrâneo, era assim, mulher, mas quando se transformou connosco mar-oceano, brutal e viril, mudou de género – “o mar” como dizem os Albuquerques. Acontece às palavras ao saltar das fronteiras e, até, ao passar do tempo. Disse-me alguém: “Fim” em francês é feminino, “la fin”, e por cá também já o foi. No túmulo de Pedro I e Inês, escreve-se na pedra: “Até a fim do mundo.” Em aldeias do Minho, às ruazinhas estreitas chamava-se cangostas, de angusta, estreito. Mas de que me serve sabê-lo quando os becos já não se chamam assim?, perguntei a alguém. Encolheu os ombros, talvez seja quase inútil, mas terei eu reparado que angusta também deu angústia, a do aperto no coração, a do nó na garganta, a da estreiteza algures em nós?… Esse alguém, Roby Amorim, começou a ser jornalista no ano em que nasci, conheci-o quando ele publicou um livrinho: Elucidário de Conhecimentos quase Inúteis. Era sobre a sua ferramenta, a palavra. Falei com ele uma só vez, como deve ser com os jornalistas, que são para uso breve. Roby Amorim tinha cara de poucas palavras porque estava ocupado com elas: “É fascinante saber porque se designa um certo animal por cão, uma peça de mobiliário por cadeira…” São fascinantes os homens apaixonados, digo eu. Morreu ontem“.
Um abraço, Nuno!
Será bom lembrar sempre Roby Amorim.
Nair Alexandra