CONHECI O Zé Fonseca e Costa desde sempre, quase que aposto que na casa do Estoril da Albertina e do Arménio Ferreira, ele também angolano e grande amigo do meu Pai. Eu um miúdo, ele já com os seus 40 anos, um “velho” portanto. Anos mais tarde, quando comecei a trabalhar e a andar mais por Lisboa, começamos a dar-nos e mesmo, pese a diferença de idades, a tratar-nos tu. Lá por meados dos anos 80, por uma razão esparvoada, tivemos uma pega homérica noite dentro no Procópio que nos deixou de candeias às avessas durante uns quantos anos. Voltámo-nos a falar daí a uns tempos, como se nada fosse, por obra e graça do Aventino Teixeira que lá arranjou uma maneira “casual” de nos sentar à mesma mesa num restaurante ali mesmo no Jardim das Amoreiras, paredes-meias com o “palco” da nossa desavença, e “apadrinhar” assim a reconciliação.
Há coisa de uns dois anos, o Zé Fonseca ligou-me. Queria falar comigo. Fui ter com ele a um escritório ali ao pé da Duque de Ávila e fomos almoçar ao simpático restaurante do Teatro Aberto, onde ele quis saber a minha opinião sobre a possível comercialização no mercado brasileiro de um filme sobre Lisboa feito “em cima” de um texto inédito de Fernando Pessoa. Mas esse almoço deu para falar de outras coisas , de um eterno projecto que ele tinha sobre passar a filme “O Senhor Ventura” do Miguel Torga e também para perceber como as câmeras 4 e 5D o tinham conquistado – a ele que obviamente era um homem do celuloide. Ainda falámos umas quantas vezes depois disso, uma ou outra vez pessoalmente, outras por telefone. Há uns dias pensei que ia vê-lo em Cascais no decurso de uma evocação de Orson Welles a propósito do centenário do seu nascimento que a Fundação D. Luís promoveu, mas o nosso comum amigo Salvato Teles de Meneses avisou-me um dia antes que o Zé tinha sido internado e que não iria estar presente no debate que pós-exibição do filme “A Jornada do Medo”.
Soube agora, há bocadinho, que o Zé se tinha ido. O que se pode dizer numa altura destas? Sei lá… Uma coisa é certa: isto é tudo uma merda…
P.S. – Um beijinho, Ana Lúcia.