A MORTE de um antigo ministro do regime deposto a 25 de Abril, no caso de José Hermano Saraiva, levantou uma polémica nas chamadas “redes sociais” (vulgo “Facebook”) e onde – por vezes com alguma violência verbal – enfrentaram-se aqueles que lhe quiseram prestar homenagem e outros que, aproveitaram o momento, para recordar facetas de alguém que protagonizou episódios tristes e obviamente condenáveis. Eu fui um desses, dos que lembrei a sua actuação (por vezes patética, mas outras vezes bem mais sinistra…) enquanto ministro da Educação Nacional de Oliveira Salazar e de Marcello Caetano. Fi-lo porque, apesar de ser na altura ainda um miúdo, recordo (e bem!) a destreza com que o dr. Saraiva rapava da caneta e expulsava, repito, expulsava professores do ensino público com base em informações da PIDE; como permitiu a entrada dos famosos “gorilas” nas faculdades; e a indiferença (já para não classificar de outra maneira) com que pactuou com as cargas policiais sobre os estudantes.
Se o dr. Saraiva, ao longo dos anos, tivesse sido coerente e assumido as suas acções enquanto ministro e partidário do antigo regime, mereceria o meu respeito. Mas não. O dr. Saraiva tentou “ajeitar-se” aos novos ventos, acomodar-se, chegou mesmo ao ponto de tentar justificar publicamente a sua participação no governo de Salazar por – pasme-se! – representar “a ala democrática” do anterior regime… E só não chegou ao cúmulo e ao absurdo de aderir de corpo e alma aos chamados “ideais de Abril”, como fez Veiga Simão (que chegou a ser ministro de governos socialistas!) porque os ecrãs e as suas (historicamente duvidosas, diga-se de passagem…) charlas televisivas pouparam-no a isso, livraram-no de “virar a casaca” de forma tão vergonhosa e humilhante quanto o seu sucessor na pasta da Educação Nacional.
É essa a grande diferença entre um dr. Saraiva e, por exemplo, um general Kaulza de Arriaga, que tive o prazer de conhecer e falar longas horas. É essa a diferença entre alguém que foi objectivamente um oportunista e alguém que – mesmo defendendo ideias bem distintas das minhas – sempre foi coerente e merecedor de respeito.
Incoerência?! Ora essa…
O Sr. Saraiva era completamente coerente com os ideis que dizia defender.
É claro que ele, ao fazer parte de um governo liderado por Salazar, representava uma “ala democrática”… Ou não fosse Salazar – tal como brilhantemente nos elucidou este imensamente credível historiador – um “antifascista”… 😉
Falando a sério…
Sobre a credibilidade deste historiador, lembro-me bem de ter conhecido até alguém de uma terra sobre a qual este falou, num dos seus documentários, que me dizia que uma das coisas que tinha sido dita nesse documentário – sobre esta mesma terra – constituía uma autêntica “história da carochinha”… E também de que isto surgiu a meio de uma conversa em que se falava sobre outras histórias não credíveis, do mesmo género, que este historiador contava…
Mas, eh lá… Essa de ele ter colaborado com a PIDE, não sabia… E é demais.
Ainda bem que há quem, neste blogue, mantenha viva a Verdadeira História. E não a tente branquear – como pude ver que fez a imprensa controlada pelos interesses que nos querem fazer voltar a algo semelhante ao Antigo Regime.
E reparem que não são só os ex-Ministros do Antigo Regime, cuja imagem se tenta lavar…
É também a das famílias que serviram este mesmo Regime. Assim como a história das que serviram até regimes mais antigos do que o de Salazar.
Reparem nos filhos e descendentes de figuras de proa do Antigamente e no que eles fazem…