O ESCRITOR Guillermo Cabrera Infante é um dos mais notáveis autores de língua castelhana. Nascido em Cuba, entusiasta da Revolução nos primeiros anos, Cabrera Infante foi a pouco e pouco distanciando-se do regime de Fidel Castro e traçou o seu próprio caminho, optando pelo exílio. “Tres tristes tigres”, “Habana para un infante defunto” e “Puro Humo” são porventura as sua obras mais conhecidas e as que definitivamente o projectaram a nível global. Há 10 anos, quando faleceu em Londres, soube-se que Cabrera Infante tinha deixado um texto inédito , de cariz claramente autobiográfico e escrito em forma de novela – todo ele à volta de um regresso forçado a Cuba aos 36 anos, quando a sua mãe faleceu em Havana. Uma viagem inesperada, a que se juntou uma estada também forçada e que retardou o seu regresso a Bruxelas, onde o escritor estava colocado como diplomata na representação cubana. Corria o ano de 1965, o regime começava então a endurecer, a fiesta a esmorecer e a ortodoxia a consolidar e a estender os seus tentáculos. À sua volta, durante os quatro meses em que viu negado o seu regresso à Europa, o escritor foi assistindo a esse endurecimento e a sentir uma desilusão que o fizeram tomar a decisão de partir logo que o deixassem e a não voltar.
“Mapa dibujado por un espía”, publicado em castelhano há dois anos, foi agora editado em Portugal pela “Quetzal” sob o título de “Mapa desenhado por um espião” e com uma excelente tradução de Salvato Teles de Menezes. Uma obra indispensável, este “mapa da tristeza” (com o lhe chamou o jornal espanhol “El País”), para quem se interessa pela problemática cubana e, claro, para quem gosta da obra de Guillermo Cabrera Infante.