José Paulo Fafe

Notável


NO MÍNIMO notável o texto de Pedro Santana Lopes no “Correio da Manhã” e que é um oportuno e realista “desabafo” pessoal e político e um excelente exercício de memória de factos que, não sendo tão distantes quanto isso, há quem queira (e dê jeito…) esquecer. Talvez o mais lúcido e curiosamente desapaixonado comentário acerca da entrevista que marcou a semana política. Com a devida e mais que merecida vénia, não resisto a transcrevê-lo:

A ‘boa moeda.’ Criaram-no, agora aturem-no. Gostam, alguns, muito de dizer que José Sócrates foi lançado para Primeiro-Ministro nos debates que mantivemos, em 2002 e 2003. Percebo a ideia, mas não foi. Sócrates ganhou e ‘reinou’ porque viveu em lua de mel com muitos centros de poder em Portugal.
Muitos, a começar pelo próprio Presidente da República – mas não só – andaram embevecidos com José Sócrates, nos primeiros anos da sua governação. Agora já odeiam, não gostam ou estão afastados. Pois, mas andaram com o ‘menino de oiro’ ‘ao colo’.
A Vida, muitas vezes, é assim. Durante anos, ele usou comigo e com o meu Governo a manipulação em que é exímio e a que recorreu, abundantemente, na quarta-feira à noite na RTP. A começar pela burla do tal défice de 6,83% em 2005 que é dele e de mais ninguém.
Na altura, quase todos colaboraram com essa impostorice. O silêncio de Seguro em relação a Sócrates, tive-o eu de Marques Mendes, quando me sucedeu na liderança do PSD.
Agora, muitos mais se irritam com as engenhosas construções do ex-Primeiro-Ministro? Custou ouvi-lo a falar de deslealdades quando foi o primeiro a romper a solidariedade institucional? Pois é! Pois não é agradável…
Anteontem, Cavaco Silva, Teixeira dos Santos, Passos Coelho, Manuela Ferreira Leite, António José Seguro, António Costa, entre outros, por diferentes razões, terão experimentado – em maior ou menor grau, consoante os casos – uma sensação muito desagradável.
Eu conheço a sensação. Sei o que se sente quando apetece estar lá na vez de quem tem José Sócrates pela frente para o desmentir e dizer a verdade. Pois! É que, se não for na hora, já não é igual. E a mensagem passa até porque é repetida muitas vezes.
Não disse verdades? Disse, algumas e uma ou duas significativas. E disse-as com força e com desassombro, igual a si próprio. Eu sempre lhe reconheci qualidades, nunca o menosprezei. Mas nunca estive do lado dele, nunca o apoiei, sempre o combati. A diferença é essa.
Porreiro, pá!

3 ComentáriosDeixe um comentário

  • Amigo ZPF
    Por acaso já tinha lido e até meti no meu perfil do FaceBook para refrescar a memória de certos amigos de ideologias distintas à minha……
    Como já tinha dito, fui obrigado a ouvir nos imensos ecos da TVI e SIC as acusações mentirosas do outro paspalho que, para mim, são caso de Polícia!!!

  • um artigo tão notável quanto verdadeiro. Mas PSL faz parte de um PSD (cuja actual dimensão desconheço) que nunca se rendeu aos lobbys, ao politicamente correcto, á “aventalada” sem freio.
    Pagou por isso.
    MAs tem a força da razão do seu lado.
    E a coerência.

  • Amigo ZPF
    Mais notável (mas que para quem o conhece bem não é surpresa,lógico)é o desafio que PSL fez a José Sócrates para um debate sobre as acusações que ele fez à sua pessoa e seu Governo.
    O outro fala sempre de papo cheio em entrevistas consertadas em que os jornalistas não estão autorizados a falar de “certas situações bem escuras” do tipo mas tenho a certeza que vai borrar-se de medo, e deve, de se sentar frente a frente com Pedro Santana Lopes.
    Não creio que esse cobarde aceite.

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