É PRATICAMENTE inquestionável que este regime, nesta “forma” e com estes “protagonistas” está a dar as últimas, com o seu “prazo de validade” a esgotar-se de dia para dia. A descredibilização da actual classe política perante a sociedade é visível e a necessidade do surgimento de novas “caras” que possam corporizar o que hoje são os valores da imensa maioria que reclama uma mudança radical na forma de fazer política torna-se indispensável. Mas, porque as circunstâncias são hoje bem distintas do que eram em 1926 ou 1974, terá de ser o próprio regime a promover a sua própria regeneração, promovendo o afastamento desta classe política onde os vícios, as cumplicidades e os interesses corporativos e pessoais imperam e se sobrepõem a tudo e criando as condições para que novos protagonistas “salvem” o que ainda resta desta democracia agonizante. Mas será que consegue?
O regime, ou melhor, o que resta dos seus “guardiões” será suficientemente inteligente para promover um refreshment que permita a uma nova “fornada” de políticos (que existem, não tenham a menor dúvida!) apresentar-se aos portugueses sem passar pelo crivo absurdo e viciado de uma “trupe” de pretensos formadores de opinião que, a seu bel-prazer e segundo as suas conveniências pessoais, escolhem quem pode e não pode protagonizar a nossa cena política? Há semanas, numa entrevista dada a Mário Crespo, o brasileiro Duda Mendonça, porventura um dos nomes mais destacados do chamado “marketing político” a nível mundial e um dos principais artífices da eleição de Lula, não escondia a sua surpresa pelo facto de, em Portugal, a televisão “jogar” um papel menor nesta “revitalização” da democracia, se comparado com o que sucede em muitos países. E comentando a dificuldade dos que, sem pertencer ao chamado establishment possuem em dirigir-se directamente e sem intermediários ao eleitorado para expor as suas ideias e projectos, chegava a afirmar : “Em Portugal, Lula ou Obama dificilmente seriam eleitos“…
Não sei se seriam, ou não, eleitos. O que sim tenho a certeza é que, por este caminho, um dia destes Portugal arrisca-se a que um qualquer Alberto João Jardim de segunda escolha “varra” o país de norte a sul, capitalizando descontentamentos e frustrações e, a coberto de uma pretensa “moralização”, alcance o poder e (aí sim…) nos empurre definitivamente para o abismo.