José Paulo Fafe

Miguel Horta e Costa: será ele “a rainha de Inglaterra do BES”?


AS COISAS continuam complicadas para os lados do grupo Espírito Santo, isto apesar do silêncio que foi “imposto” logo a seguir à eclosão do conflito em que uma significativa parte do chamado “núcleo duro” do grupo questionou a liderança de Ricardo Salgado e anunciou publicamente a sua substituição a médio-prazo. O recente e explosivo artigo do “Wall Street Journal” da semana passada, apesar de “silenciado” na generalidade dos media portugueses, caiu como uma bomba nos meios financeiros e, segundo consta,. motivou uma óbvia (mas discreta) intervenção do Banco de Portugal que nos últimos dias tem chamado às suas instalações os principais responsáveis do Banco Espírito Santo, nomeadamente o próprio Salgado.

Uma coisa é certa: a substituição do actual presidente do BES está para breve e  tudo indica que dificilmente passará do próximo Verão.  E se há algumas semanas, era dado como certo que a sua retirada far-se-ia através de uma oportuna nomeação para chairman da CorpCo (a empresa que juntou a portuguesa PT e a a brasileira Ôi e que tem a sua sede no Rio de Janeiro), hoje isso parece bastante mais complicado. É que, segundo consta nos meios financeiros, as relações entre os dois accionistas não são propriamente as melhores, com os investidores brasileiros a exigirem que a PT “acompanhe” os investimentos como condição para manter algum controlo da operação. Assim, a prolongar-se este “braço de ferro”  parece difícil que Ricardo Salgado (que curiosamente possui há muito, tal como a mulher Maria João, a cidadania brasileira) ter garantido o seu “recuo” em terras brasileiras.
Paralelamente, sucedem-se as movimentações com vista à sua sucessão, com o seu primo José Maria Ricciardi – para já – conformado em recuar nas suas ambições e limitar-se nesta fase a assumir um papel que, ainda que aparentemente secundário, poderá no entanto vir a ser determinante na disposição das peças no complexo “xadrez” que definirá quem será o próximo “homem forte” do grupo Espírito Santo. E é exactamente neste contexto que nas  últimas semanas tem surgido um nome que parece gerar algum consenso para  “interinamente” liderar o grupo: Miguel Horta e Costa, o antigo presidente da PT e desde sempre um homem de confiança do “clã”. Quem defende uma solução deste tipo, acha que, até os ânimos esfriarem e ser possível encontrar um nome que gere unanimidade e capaz de, simultaneamente, “blindar” e unir o grupo, é necessário que a representação exterior do grupo seja confiada a quem “não possua grandes ambições, tenha uma postura low profile e que perceba que está ali única e interinamente para prestar um serviço“, ou seja alguém que não se importe de desempenhar um papel  tipo “rainha de Inglaterra”, algo que Horta e Costa aparentemente estaria disposto a interpretar. Há mesmo quem garanta que ainda há poucos dias Ricciardi,  seu amigo pessoal e que não veria com maus olhos uma solução deste tipo, fez questão de sondar o Crédit Agrícole (um dos accionistas de referência do grupo, onde detém 15 por cento do BES) sobre esta solução. 
Quem entretanto apostou na possibilidade de uma reconciliação entre Salgado e Ricciardi pode definitivamente “tirar o cavalinho da chuva”. Este último não perdoa ao primo e ao seu braço-direito Amílcar Morais Pires a forma como estes alegadamente o envolveram no processo  em que é arguido e relativo à privatizado da EDP e da REN – e foi exactamente isso que fez transbordar um copo que já se encontrava demasiado cheio no que diz respeito às relações de forças dentro do grupo…

8 ComentáriosDeixe um comentário

  • É este o tipo de informação que não encontramos nos jornais,nem nos economicos nem nos chamados generalistas. Porquê? Será porque os jornalistas não podem ou não querem escrever o que sabem? Que não os deixam incomodar os poderosos, contar as historias que estao por trás das noticias? Chego à conclusão que hoje o verdadeiro jornalismo está nos blogues e não nos jornais ou nas têvês, porque aí a censura está instalada. A falta que fazem o Talequal, o Independente e outros jornais onde tinhamos que ler. E jornalistas a sério também.

  • Amigo ZPF
    Tudo é muito bonito e seria muito interessante se não andassem sempre a “rapar” nos nossos bolsos.
    E não falo só na lei da selva que existe em Portugal em relação à Banca em que ninguêm os controla,pelo contrário,eles controlam tudo e todos,falo no sentido em que o Estado,nós, passamos a vida a meter lá dinheiro para que não se afundem com as negociatas pessoais dos Gestores/Administradores.
    É vergonhoso que gente assim viva de maneira escandalosa,ganhe salários anuais pornográficos,receba bonus ainda mais escandalosos e depois andem a despedir pessoal para contratar Licenciados a 600 euros/mês e a pedir dinheiro ao Estado(nós) para continuar nessa loucura.
    São areias muito movediças para se pisarem,algumas vindas das praias Sicilianas,outras Napolitanas e só pararão quando o controlo for feito a nível central europeu.
    Dezasseis anos de Constâncio foram a libertinagem completa.Tudo se passou no seu reinado.PP,BPN,BCP,BES,Caixa…e por aí fora.
    Onde está agora esse tipo?
    Pois é…………….

  • Em relação ao penúltimo comentário aqui publicado, uma nota: só o foi, pese a insinuação caluniosa, porque, de facto, só comprova como certas coisas estão (e devem, para alguns…) ser omitidas ou escamoteadas. É por isso que grande parte de informação relevante sobre muito do que se passa em Portugal a todos os níveis é silenciada e omitida; porque para muitos, a imagem que resta dos media é exactamente essa: que estão ao serviço de quem, de uma maneira ou outra, os controla.
    Para finalizar e pessoalizando, se é que se pode pessoalizar relativamente a um “anónimo”, no caso cobardolas e que se refugia nesse mesmo anonimato para insultar e tentar caluniar: sabe que mais? Tem tia? Se tem, imaginará o que lhe desejo nesta quadra natalícia…

  • caro Rui
    É verdade. Só se lê isto:
    “News for http://www.publico.pt/economia/noticia/a
    A história do maior conflito na cúpula do capitalismo português do pós-25 de Abril
    Público.pt ‎- 23 hours ago
    Terminou agora, com a mão do Banco de Portugal, que quis impedir uma grave … no sistema financeiro, que certamente traria consequências à economia. … A história do maior conflito na cúpula do capitalismo português do pós-25 de Abril …. contou ao PÚBLICO: “Nas vésperas do 25 de Abril, assisti, no supermercado …”
    e é tudo….Um Estado de Direito MUITO torto que apaga escutas quando comprometem amigos e borram sites da Net quando expõem os podres dos poderosos.
    Tantas vezes digo que a nossa Democracia é pura ilusão….

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