AINDA A recordação de Francisco Salgado Zenha… E mais uma história que define bem o seu rigor – às vezes ultrapassando as fronteiras do razoável. A candidatura presidencial de 1986 tinha ficado pelo caminho e apenas uns poucos permanecíamos na esconsa e mal-amanhada sede da rua Latino Coelho arrumando os últimos papéis. Todas as manhãs, sempre à mesma hora, Zenha lá aparecia. Subia ao seu gabinete do terceiro andar, por lá ficava umas horas e era certo e sabido que, à saída, lá passava pela tesouraria no rés-do-chão: “Então já sabem quanto é que tenho de pagar?“, perguntava ele, invariavelmente. O responsável das contas bem tentava disfarçar, mas era certo e sabido que não havia dia em que Zenha não insistisse. Queria pagar a gasolina e os hotéis da suas deslocações enquanto candidato e ai de quem o contrariasse! Por muito que se lhe explicasse que essas despesas eram naturalmente suportadas pela própria candidatura, Zenha insistia sem cessar. Até que alguém teve uma ideia, no mínimo genial. E quando uma manhã, voltou a interpelar o tesoureiro, este apresentou-lhe uma conta, garantindo-lhe que essa verba dizia respeito a metade das suas despesas de alojamento, ou seja ao custo atribuído à sua mulher: “Pronto assim ’tá bem! Era só o que faltava a Maria Irene não pagar metade das despesas! Ela não era candidata!“, argumentava, enquanto preenchia o cheque e perante o alívio do tesoureiro.
Outros tempos… (e outra gente…).