AS ÚLTIMAS duas ou três semanas, seguintes aos acórdãos da Relação e do Supremo sobre a prisão preventiva de José Sócrates, têm sido de um silêncio ensurdecedor à volta do antigo primeiro-ministro , com um cirúrgico desaparecimento de cena do seu advogado, além de um claro baixar de guarda por parte dos principais porta-vozes da sua inocência, de uma visível redução de actividade nas redes sociais dos socráticos mais empedernidos e de um claro alheamento do PS que, a todo o custo, tenta livrar-se do seu “fantasma”, isto a cada dia que mais se aproximam as eleições. A imagem que se começa pois a ter é a de um Sócrates só, isolado, um pouco ao “deus-dará”, a quem apenas o seu inner circle de sempre, além daquela folclórica e caricata meia-dúzia de anónimos apoiantes ciclicamente postados à porta da prisão de Évora, ainda tentam manter vivo aquele mito do “Sócrates-mártir”, em que assentou em grande parte toda a estratégia de defesa e também comunicacional destes últimos meses. Neste momento, em que Sócrates tem pela frente, pelo menos, três meses de prisão preventiva (senão mesmo mais 6, isto se entretanto não for deduzida acusação…), a mudança de estratégia de defesa é inevitável e terá que passar, mais ou menos discretamente, pelo afastamento de cena do até agora seu advogado. Até porque a última coisa que Sócrates precisa é de ter, à frente da sua defesa, um “clone” em termos de personalidade: conflituoso, teimoso e muitas vezes sem noção da realidade…