HÁ MUITOS anos, salvo erro em 1990, Duda Mendonça foi o responsável pela campanha a governador do estado de S. Paulo do ainda hoje controverso Paulo Maluf. Uma campanha à partida difícil, tanto pelo perfil frio, distanciado e algo arrogante do candidato, mas também pelo facto do mesmo vir de cinco derrotas eleitorais consecutivas que obviamente tinham feito mossa. A receita então usada por Duda foi, como tudo o que ele normalmente faz, simples e eficaz: reduzir a exposição do candidato, introduzir emoção, dotar a candidatura de uma “marca” que transmitisse afago e confiança e fundamentalmente mostrar obra. Dessa campanha lembro-me ainda hoje de duas ou três coisas – do coração (que mais tarde vi “reproduzido”, primeiro em Angola, em 1992, na primeira campanha presidencial de José Eduardo Santos e depois, em Portugal, quando o “plantaram” em 1995 na campanha vitoriosa de António Guterres…), do célebre “Foi Maluf que fez, é Maluf que faz” (https://youtu.be/4bKBykq_CaI), uma fórmula também ela profusamente repetida por esse Brasil (e mundo) fora, mas também de um filme sonorizado com a canção “Amigo de fé”, um tema da dupla Erasmo e Roberto Carlos, onde Duda conseguia, de forma magistral, transformar um Maluf hirto, antipático e distante num Maluf sorridente, afável e “humano”… Nesse filme, que apelava obviamente à emoção e onde belas imagens de São Paulo se misturavam com planos de um Maluf muito próximo das pessoas, igual ao seu semelhante, existia uma sequência que eu nunca esqueci e que invejo, tanto pela forma como pela naturalidade que foi conseguida imprimir a algo que tinha tudo para ter um ar forçado e fake: o candidato em frente a um espelho a fazer a barba.
Lembrei-me desse filme no sábado passado, quando abri a revista do “Expresso” e me deparei com o pré-candidato presidencial Henrique Neto, frente a um espelho, de tronco nu e de gillette em punho, escanhoando-se numa pose forçada para a objectiva do fotógrafo José Carlos Carvalho. Não conhecendo Henrique Neto, mas conhecendo-lhe aquele perfil brigão e algo conflituoso que exibe nas suas aparições televisivas, cheira-me que ali há “dedo” de alguém que numa tentativa de “adoçicar” essa mesma imagem e inspirando-se numa ideia magistral que Duda Mendonça teve há 25 anos noutros contexto e conjuntura, convenceu agora o empresário-candidato a reproduzi-la, sem dar-se conta do ridículo e caricato que certas “adaptações” causam. Isto já para não falar do reparo feito por Luís Paixão Martins na sua página de “Facebook”, quando no domingo chamou a atenção para o facto de ninguém fazer a barba de relógio…