José Paulo Fafe

Em jeito de diário, de Balsemão a Sócrates, passando pelo Brasil, Nóvoa, Santana Lopes e Costa…

QUASE EM jeito de diário, um breve passar de olhos por uns últimos dias em que se viu um pouco de tudo – desde uma capital parada pela patética, repito, patética trasladação dos restos mortais de um extraordinário  jogador de futebol feita a cavalo(!) até “folhetins” presidenciais que envergonham, mais que os protagonistas, quem quer à força condicioná-los – isto já para não falar do maior partido da oposição que parece apostar em dar uma ajuda a uma coligação governamental que tinha tudo para perder as próximas eleições…

RIO BALSAS

I – ENTUSIASMO | Por muito educado e gentleman que Francisco Pinto Balsemão se esforce em surgir aos olhos dos portugueses, há momentos em que o verniz tem inevitavelmente de estalar e aquela certa patine que o mítico e velhinho blazer azul-escuro e o ar blazée lhe conferem cede a uma certa sede de révanche que em nada lhe fica bem. É quando, por exemplo, dizendo-se interpretar o sentir de muitos portugueses (presumo que, entre outros, o do caddie do Clube de Golf do Estoril), afirma alto e bom som que o País está entusiasmadíssimo com a hipotética candidatura presidencial do dr. Rui Rio. Nós sabemos que o dr. Balsemão não esquece, nem que a vaca tussa, as patifarias que o prof. Marcelo lhe fez em tempos, desde quando o apelidou de “lélé da cuca” nas páginas do seu próprio jornal ou de algumas malandrices que lhe aprontou no próprio governo e fora dele. Mas homessa! – daí a vir a público tentar desvalorizar uma possível candidatura do seu antigo ministro-adjunto que, goste-se ou não da personagem, espalha afabilidade e simpatia por onde passa, inventando um inexistente “entusiasmo” que um aplicado e bem-comportado contabilista deve quando muito gerar em sua casa e em alguns dos seus amigos, é obra, para não dizer publicidade enganosa…

RENDEIRO

II – NEGOCIAÇÃO | Ainda a propósito do dr. Balsemão, vale a pena ler um dos últimos textos do antigo banqueiro João Rendeiro no seu blogue “Arma Crítica” – http://joaorendeiro.com/wordpress/?p=2297. E não é certamente por Rendeiro estar metido na alhada do BPP que o que ele escreveu (ou melhor revelou…) sobre o que avizinha ser uma difícil e dura ronda negocial entre a SIC e a “nova” PT deixa de ser credível. A história conta-se em duas penadas, ou seja, resume-se a isto: enquanto a TVI recebe da MEO/PT anualmente cerca de 6 milhões de euros pela inclusão do seu pacote de 3 canais naquela plataforma (TVI, TVI24, TVI/Ficção), a SIC recebe 30 milhões, ou seja cinco vezes mais, pela inclusão de apenas mais 2 canais – a saber a SIC propriamente dita, a SIC/Notícias, a SIC Radical, a SIC Mulher e a SIC Kids. E agora? Estará Armando Pereira, o emigrante luso-francês que comanda os destinos da Altice, disposto a manter o que Rendeiro denomina de “prémio Balsemão” e que, segundo as suas contas, se cifra em 20 milhões de euros – herdado da gestão Bava/Granadeiro?

BRA

III – BRASIL | O Brasil vive mais uma das muitas crises da sua história. Complicada? Claro que sim, sem dúvida! E a culpa, é de quem? Do PT, do Lula, da Dilma? É, pois é. Mas também é do PMDB, do PSDB, do DEM, do PP, do PR, do PCdoB, do PSB, de toda aquela infinidade de partidos “nanicos” que há décadas vivem sentados à mesa do orçamento do Estado e das grandes estatais (Petrobras, Electrobras, Correios, etc), já para não falar do BNDES, do Banco do Brasil, da Caixa, onde se financiaram à descarada e à tripa fôrra, sem que ninguém dissesse o quer que fosse e – mais! – assobiasse para o lado quando alguém levantava alguma suspeição. Vamos deixar-nos de hipocrisias, de cinismos e de mentiras: a política brasileira vive e sustenta-se assim desde sempre, todos sabiam, todos participavam, raro, senão único, o que não ia ao pote… Para mim o grande problema do Brasil reside hoje na ausência de uma figura que congregue uma sociedade que, mais do que dividida, está atordoada. À excepção do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, hoje com 85 anos e que propriamente não tem nem disposição nem “tempo” para tentar “colar os cacos” de um país que precisa urgentemente de alguém que lhe transmita confiança, o Brasil não possui ninguém com dimensão, escala e peso nacional para fazer esse papel. Quem suceder a Dilma, seja no ciclo natural das coisas (daqui a dois anos e meio) ou mais cedo, se entretanto existir algum impeachment ou coisa do género (o que acho improvável), não se livra de estar sujeito a, no dia seguinte a tomar posse, ser alvo de uma qualquer outra “operação Lava Jato” ou ser “soterrado” por mil e uma notícias na cada vez mais poderosa imprensa brasileira. Acresce a tudo isto, a falência, o desaparecimento ou o “emagrecimento” das maiores empresas brasileiras de construção, com o consequente desemprego que isso vai originar, tanto a nível do chamado “peão” (operário) como da classe média, com engenheiros, arquitectos e técnicos especializados a serem dispensados…

NOVOA

Foto: Sábado”

IV – ABANDONADO | Uma certa esquerda, que se apressou em ir buscar a bênção ao dr. Soares e a enrolar o general Eanes num filme que não era o dele, foi desinquietar um aparentemente simpático professor universitário, antigo reitor, figura afável e educada e convenceram-no que do Teatro da Trindade ao Palácio de Belém bastava apenas descer a Rua do Alecrim, apanhar o eléctrico até Alcântara e depois, numa amena caminhada, estava-se na Praça do Império em dois passos. Eram favas contadas, diziam eles ao prof. Sampaio da Nóvoa. “Eles”, os do costume, salvo honrosas e respeitáveis excepções: uma grotesca personagem que se julga “dono e senhor” de um dia em que nem sequer foi protagonista e em que só o transístor, muito em voga há quarenta e tal anos, lhe permitiu acompanhar à distância; um bando de folclóricas criaturas que nunca fizeram nada na vida e, escorraçados dos partidos que os albergavam, encontraram poiso em fugazes movimentos de cidadãos que mais não são que “degraus” para chegar a lugares onde passaram episodicamente ou que passaram a vida a sonhar alcançar; e um conjunto de bafientas personagens que, entre cochilos mais ou menos prolongados, lançavam uns trémulos “apoiados” e “muito bem!” aos redondos, caducos, indecifráveis e insonsos discursos do pobre candidato positivamente lançado às feras. No meio da plateia, um aparelho enquistado, sedento e sequioso de poder, viu-se marginalizado, posto de lado, ultrapassado por alguém que teve a “ousadia” de , sem fazer pisca nem nada, ultrapassar e colocar-se à sua frente – e isto sem que tivesse qualquer intenção em rebocá-los. O primeiro a a dar o sinal foi o chamado poeta da rima fácil , não em verso, mas em prosa e que, deixou logo há uns meses, o aviso público que o apoio tinha que ser pensado, discutido, debatido – porventura pensando que existe sempre uma terceira vez… Depois veio aquilo que se pode definir recorrendo a uma expressão usada por um hoje badalado jurista da nossa praça, a “cãzoada” que tem como um dos expoentes máximos um figurão que pensa ter servido com honra e glória a Pátria e hoje, coitado, apenas guarda no álbum de memórias as fotografias com a “Miss Cabrillo” ou com o comendador que tem 32 padarias na Baixada Fluminense e lhes ofereceu um opíparo jantar e um discreto serviço “a la carte” mais noite dentro. Esse então, apareceu a espumar, irrompeu raivoso, arrastando mesmo, tal a força e a raiva, pela trela nada mais nada menos que a frágil dra. Maria de Belém, que incapaz de domar a “fera” se deixou ir… Quanto ao prof. Nóvoa, esse, coitado, deve estar neste momento a perceber que a política e o “fogo amigo” que esta gera ainda consegue ser mais complicada e traiçoeira que os complexos meandros da vida universitária por onde passou durante anos… E arrisca-se a passar por esta provação sem que a Pátria o recorde, os ”amigos” lhe agradeçam ou o Povo o reconheça. Essa é que é essa!

PSL

V – CANDIDATO| Não sei se Pedro Santana Lopes, de quem sou amigo já lá vão mais de 25 anos, ficará chateado ou não – paciência… Mas cada dia me convenço mais que o “caminho” dele é, a médio prazo, o regresso à Câmara Municipal de Lisboa. Não que ele não pudesse  vir a ser um bom Presidente da República – acho mesmo que, contrariamente a muita gente que fala, fala e não o conhece, Santana possui o perfil adequado a exercer as funções de chefe de Estado, ainda por cima nuns anos que se avizinham de necessário estabelecimento de “pontes” e “consensos” e onde a seriedade e a inexistência de suspeições a qualquer nível é algo essencial para quem exerça o cargo. Mas já percebi que a Santana Lopes não o vão deixar entrar nessa “corrida”. Quem? O establishment, da direita à esquerda, de Portas e do que resta do cavaquismo ao “centrão” dos negócios que se estende do PSD ao PS; de quem conhece suficientemente o perfil e a personalidade de alguém que, a um ano de cumprir 60 anos, dá-lhes jeito quererem continuar a fazer crer ser o enfant terrible da política portuguesa. Pelas minhas contas, o final do segundoo mandato como provedor da Santa Casa coincidirá mais ou menos com a “corrida” eleitoral a Lisboa, onde pelo que se tem visto muito dificilmente Fernando Medina será um candidato com lastro e onde, à esquerda e à direita, Santana poderá construir uma plataforma verdadeiramente suprapartidária. Só tem de prevenir-se e ter atenção, também ele, ao “fogo amigo”. Que como se viu ainda bem recentemente, chega a vir do vizinho do lado…

Foto: Observador

Foto: Observador

VI – JEITO | Na quarta-feira à hora de almoço alguém do seu inner circle segredou ao ouvido de António Costa que a revista  “Sábado” do dia seguinte trazia uma chamada de capa com uma entrevista onde um inspector da PJ que está detido juntamente com José Sócrates na prisão de Évora, contava que o antigo primeiro-ministro tinha rejubilado com a derrota do PS de Costa nas eleições regionais da Madeira. E convenceram o líder socialista que o melhor era fazer uma declaração política rapidamente, logo às cinco da tarde. Sobre quê? Como diz um amigo meu, que conhece bem a gíria militar, “generalidades e culatras”, que o importante é desviar as atenções da entrevista do tal João Sousa. Pois bem, então não é que Costa foi na cantiga?! E praticamente à mesma hora que as televisões se aprestavam para fazer directos do estádio de Alvalade onde o Sporting ia apresentar o seu novo treinador, o líder do PS desfiou a correr e atabalhoadamente (não fosse o sinal ser transferido de supetão do Rato para o Lumiar) um ror de lugares comuns e frases feitas que, ao fim de um minuto (e estou a ser generoso…) levavam o mais comum dos mortais a procurar um canal alternativo, fosse ele qual fosse. Um desastre, a indiciar que a falta de jeito é coisa que abunda por aquelas bandas. Quem diria?!

ENTREVISTA

VII – JUSTIÇA | A entrevista de José Sócrates ao Diário de Notícias teve duas “respostas” no dia seguinte. Uma no “Correio da Manhã”, nitidamente vinda de quem se sentiu atacadao na esfera da justiça, com a aparente revelação da confissão do “patrão” do grupo Lena, onde este admitia o pagamento de “luvas” ao antigo primeiro-ministro; a outra no jornal “i”, que certamente originou sorrisos na linha oficial socialista, através de uma extensa e completa análise das posições de António Costa sobre a detenção de Sócrates e o distanciamento politico que o líder do PS insiste em manter. A propósito: o “Expresso” de hoje recorda a posição que Sócrates manteve relativamente à prisão do seu camarada Pedro Pedroso em 2003, no âmbito do “processo Casa Pia” e onde, destoando da “teoria da cabala”, que tantos adeptos colheu dentro do PS, defendeu que “trata-se tão só de um processo judicial (…) como tal deixemos a justiça trabalhar”. Malditos arquivos, n’é?

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