DURANTE ALGUNS anos supus que José António Saraiva fosse um patusco e tentei vê-lo como tal, até perdoando-lhe uma ou outra sacanice de que fui vítima e um ou outro dislate que lhe fui lendo. Mas de há uns anos a esta parte, comecei a perceber que essa “patusquice” de Saraiva e que aquele seu certo ar naif que tanto cultivou ao longo dos anos não passavam de uma fachada que escondia alguém que, não tendo obviamente os alqueires bem medidos, achava que tudo lhe era permitido.
A pouco e pouco Saraiva deixou de ser o que vulgarmente se denomina como “um prato” para tornar-se em alguém que perdeu totalmente a noção, não só do rídiculo, mas do mundo onde vive. É que uma coisa é confessar numa roda de meia-dúzia de pessoas que a sua mãezinha o acha com perfil para ser candidato presidencial, como eu vi e ouvi em plena década de 80, outra é escrever em letra de imprensa que se julga merecedor de um Nobel da Literatura; uma coisa é, pelo jeito e estilo de escrita, contar um ou outro episódio pessoal ocorrido com terceiros numa crónica, outra é revelar conversas íntimas com personalidades públicas como o fez no seu livro sobre os tempos em que foi director do “Expresso; e uma coisa é escrever uns textos patetas sobre a função das pestanas, das unhas ou sobre a cera dos ouvidos, outra é covardemente caluniar Emídio Rangel e Margarida Marante depois de mortos, como o fez há uns tempos atrás.
Há poucas horas li o último texto de Saraiva no seu jornal, desta feita relatando uma ida à casa de banho de um restaurante “razoável” da periferia da capital, onde “havia três urinóis e que um deles estava avariado” , em que lhe foi impossível lavar as mãos ao mesmo tempo (“e muito menos esfregá-las uma na outra”) porque a torneira só deitava água quando se carregava no botão e onde foi obrigado a secar as mãos num guardanapo que teve de “roubar na sala do restaurante“. Texto esse, onde ainda teve oportunidade para atribuir toda essa sua “odisseia” ao facto de sermos “um país latino, com largas zonas colonizadas por árabes(…)”.
Li e, tal como um amigo meu com quem troquei impressões sobre tudo isto, fiquei a pensar como é que podemos ficar tão espantados (ou mesmo chocados) por algumas cenas menos felizes em termos jornalísticos que tem ocorrido à porta do número 33 da Rua Abade Faria, se este Saraiva, que é o “decano” dos directores de jornal no nosso País, é capaz de escrever e publicar uma prosa deste calibre?!
Estivesse eu em Portugal e mandava entregar ao arquitecto Saraiva uma pizza. Carregadinha de pimenta, de preferência. Tais os disparates…