NO SEU derradeiro discurso comemorativo do 25 de Abril, o ainda Presidente da República mostrou um imperdoável conhecimento da nossa história recente, quando resolveu recorrer ao ocorrido aquando da aprovação da Constituição de 1976 como um exemplo do consenso e compromisso que defendeu ser necessário promover entre os partidos: “Só através do compromisso entre as forças democráticas foi possível aprovar a Constituição da República e concretizar muitos dos sonhos de Abril“, afirmou Cavaco Silva, certamente esquecido do facto do CDS ter então votado contra a Lei Fundamental aprovada pela Assembleia Constituinte a 2 de Abril de 1976.
Das duas, uma: ou Cavaco e os seus conselheiros não sabem que o CDS votou contra a Constituição; ou então não consideram que o mesmo CDS seja “uma força democrática”… Pelos vistos, os lapsos no discurso presidencial de ontem não se resumiram apenas às habituais questões gramaticais e ao tão profusamente referido e noticiado lapsus linguae quando, em vez de “cidadãos”, o chefe de Estado preferiu referir-se aos “cidadões“(!) – as gaffes de Cavaco foram, também elas, de ordem histórica…