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A PRESENÇA de José Manuel Durão Barroso na sessão que assinalou mais um aniversário do PSD e o rasgado elogio que Pedro Passos Coelho lhe dirigiu na sessão da Aula Magna, voltaram a colocar o nome do antigo presidente da Comissão Europeia na linha de partida da “corrida” que definirá o candidato que a direita irá apoiar nas próximas eleições presidenciais. Por muito alto que seja o seu índice de rejeição mesmo na sua própria área política (em grande parte pela controversa troca de Lisboa por Bruxelas em 2004), a visível bipolarização que se avizinha na sucessão de Cavaco Silva, onde Sampaio da Nóvoa reúne todas as condições para ser o único player à esquerda, atenuará decisivamente esse handicap de Durão Barroso que, conseguindo ser o único nome à direita, poderá agrupar esse mesmo eleitorado – ainda para mais tendo em conta o discurso excessivamente gauchiste e “redondo” de Nóvoa… Para além disso, uma candidatura de Durão teria para Passos Coelho uma outra vantagem: resolveria a questão do “candidato único” da coligação PSD/CDS, com Paulo Portas a nunca poder deixar de apoiar esta solução, quanto mais não seja pelo facto de ter sido seu ministro da Defesa durante cerca de dois anos e meio. Isto já para não falar no “jeito” que daria ao próprio Passos, que assim, como soe dizer-se, de uma “cajadada, mata dois coelhos”, no caso seriam Marcelo Rebelo de Sousa e Rui Rio…
Mas terá Durão hipóteses de derrotar Sampaio da Nóvoa? Na minha opinião, não – nem ele, nem qualquer candidato à direita, isto partindo do princípio que o PCP abdicará (nem que seja à última hora) de levar o seu candidato às urnas, facilitando assim a vida ao antigo reitor da Universidade de Lisboa. E isto leva à inevitável pergunta sobre que vantagens poderá tirar o antigo primeiro-ministro de uma candidatura (fracassada) a Belém… Do meu ponto de vista, tem várias: por um lado, dá a cara num combate que todos reconhecem como difícil, contribuindo assim para atenuar o “fantasma” que o persegue desde 2004 e que se prende com o facto de ter trocado o cargo de primeiro-ministro pelo de presidente da Comissão Europeia; por outro, partindo do pressuposto que não alcance menos de 43/45 por cento, recupera (e amplia mesmo…) o seu peso político na cena política nacional; e finalmente, de forma complementar e à semelhança do que ocorreu com Cavaco em 1996 quando foi derrotado por Jorge Sampaio, afirma-se como figura tutelar da direita, num registo suprapartidário e onde poderá exercer um papel condicionador e de decisiva influência na sua área política – também aqui à imagem do mesmo Cavaco que, estarão lembrados, chegou a contribuir de forma determinante para a queda de um governo do seu próprio partido…
Com 59 anos, Durão tem tempo para esperar – no mínimo 5 anos… Para quem o conhece, a ele e à forma como sempre encarou a vida e a política, bem como ao seu perfil extremamente calculista e impiedoso, sabe bem que manha não lhe falta. Manha e “mulice”, esses dois atributos indispensáveis a quem se habituou a esperar o tempo que precisa para chegar onde quer. Esse é Durão Barroso…