José Paulo Fafe

A fúria da dra. Varela

VARELA

DESDE HÁ uns anos a esta parte, certamente por razões que não se prendem apenas com a sua sugestiva formosura, existe um fenómeno em certa esquerda portuguesa que dá pelo nome de Raquel Varela. Socióloga ou historiadora (não sei ao certo), investigadora na Universidade Nova de Lisboa e ao que me dizem com uma significativa obra no domínio da história contemporânea, Raquel Varela tem tido uma verdadeira “coqueluche” em alguns sectores da nossa sociedade, arrebanhando fãs e seguidores numa área política que se estende de um certo PS ao Bloco de Esquerda e áreas “limítrofes”. Varela tem as suas ideias, que expõe com regularidade nos jornais, nas redes sociais e até na televisão, onde semanalmente até partilha um programa apresentado por um comediante e em que, a par da sua amiga Isabel Moreira, de Manuela Moura Guedes e de uma outra senhora de que não recordo agora a graça, comenta a actualidade política. Não sendo propriamente um entusiasta das suas ideias, por razões que se prendem com uma certa curiosidade sobre este verdadeiro fenómeno mediático, tenho alguma atenção ao que ela escreve na sua página de Facebook, onde partilha com os seguidores os seus estados de alma e alguma incidências da sua vida mais privada. Foi o que aconteceu ontem ou anteontem quando Raquel Varela resolveu confessar-nos que tinha ido há uns tempos a uma urgência hospitalar… Até aqui tudo bem, ou menos bem, dependendo do motivo que a levou até lá. O pior foi quando, a propósito dessa “visita” ao hospital público, Varela lança uma inacreditável diatribe a propósito de um documento recebido a posteriori e onde  o Centro Hospitalar de Lisboa, a título “exclusivamente informativo” não implicando “qualquer pagamento” e “não constituindo factura nem documento equivalente“, lhe revela qual o valor despendido pelo Serviço Nacional de Saúde nos cuidados médicos que lhe foram disponibilizados – isso com o propósito de, segundo o que está escrito mais adiante, dar conta ao utente que “os cuidados de saúde que lhe são assegurados pelo SNS representam um esforço económico de todos os contribuintes através dos impostos pagos, garantindo uma saúde pública tendencialmente gratuita” Ai o que foi o Centro Hospitalar de Lisboa fazer à dra. Varela…  Furiosa, rapou da pena e precipitou-se a zurzir a torto e a direito no ministro da Saúde, na das Finanças e não sei mesmo (já não me lembro, mas é o mais certo…) no primeiro-ministro. Porquê? Eu leio e sinceramente não percebo muito bem, até porque acho esta iniciativa  que, além de revelar uma transparência digna de registo, possui um carácter de responsabilização do utente, que é de louvar. Mas para a dra. Varela (e pelos vistos para os quase 500 seguidores que clickaram no “like” aprovando assim essa sua diatribe…) não é assim e, misturando uma citação de Freud e alegados “distúrbios de personalidade” por  parte do Estado, a senhora  exige ser também informada sobre dos  impostos que ela paga para usufruir dos cuidados que lhe foram ministrados.

Eu acredito que a dra. Varela precise de aparecer, que necessite manter-se na crista da onda, de mostrar-se activa e de posicionar-se sei lá para quê – é admissível que faça pela vida, tudo bem… Agora o que se lhe pede é que o faça “em cima” de algo que contribua para uma coerência e honestidade intelectual que se exige a quem é investigador universitário e a quem possui responsabilidades no capítulo da formação de opinião. E que não o faça a propósito de uma iniciativa do Estado que, goste-se ou não de quem hoje está no poder, possui uma inegável importância e revela uma inquestionável transparência…

4 ComentáriosDeixe um comentário

  • Senhor Embaixador
    Permita-me acrescentar que a medida em causa – que eu também aceito e aprovo em pleno! – foi iniciada nos principais hospitais portugueses exactamente no ministério Correia de Campos … no governo PS de Sócrates! !!

    • Estimado Mário Jorge Carvalho,
      Agradeço o seu esclarecimento. Já agora, eu não sou Embaixador – esse é o meu Pai, José Fernandes Fafe.
      Grato, receba os melhores cumprimentos,
      José Paulo Fafe

  • Será mesmo esquecimento não se lembrar da 4ª senhora que intervém no programa? Eu acho que é a pessoa mais equilibrada no programa. Uma coisa lhe digo, com a Raquel não se aprende nada e duvido que alguém a entenda, a não ser negativamente. Fiquei a saber por si, que a Raquel trabalha sob a alçada do Estado. Só podia ser, porque nenhum privado aturava semelhante criatura. Verborreia não lhe falta.
    Pontos de vista.

    • Não é esquecimento, é mesmo desconhecimento. Não é por mal, garanto-lhe – apenas porque nunca decorei o nome.
      Melhores cumprimentos,
      ZP

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